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A flotilha internacional humanitária foi intercetada por Israel e há quatro portugueses detidos ilegalmente em águas internacionais. Seria uma notícia que, independentemente de simpatias políticas, nos devia indignar a todos. Eu acompanhei as imagens desta captura, e ver militares armados até aos dentes a entrar pelas embarcações adentro foi arrepiante. Nas redes sociais, foram demasiados os comentários a esta notícia com o emoji de chorar a rir, mas eu tenho alguma esperança de que tenha sido como daquela vez em que a minha mãe foi ao grupo de Facebook dos amigos da nossa aldeia comentar o falecimento do Quim do Talho com o emoji a chorar a rir, justificando com "o emoji está assim de boca aberta porque está a chorar muito".
O líder do segundo maior partido em Portugal reagiu nas suas redes com um "Por favor fiquem com ela. Ajudem Portugal". Com Mariana Mortágua, líder de um partido e deputada, na imagem, e uma mensagem a dizer que não se aceitam devoluções. Giríssimo. O partido de extrema-direita é sempre tão original, que passou o dia inteiro a repetir a mesma piada. Isto vindo de um valente que andou a entupir o Serviço Nacional de Saúde e a desperdiçar o seu orçamento anual de ligaduras e pensos por causa de uma azia. Sim, sim. Ativistas que se deslocaram para se manifestar contra um genocídio no meio de um conflito sangrento estão a ser apontados pelo campeão que urinou na cueca por causa de rateres de motas em Famalicão. Isto devia fazer pensar: se nem na capital das papas de sarrabulho, quanto mais num sítio onde há sarrabulho à séria.
Mas os políticos de extrema-direita só não ganharam o globo de ouro da reação mais deprimente porque politicamente não são governo. Quando finalmente vi na televisão o ministro da Defesa, Nuno Melo, a falar da urgência de resolver a questão dos reféns, achei genuinamente que estaria a falar dos quatro ativistas detidos. Mas não. No meio de todo este caso, Nuno Melo achou interessante classificar aquela ação simbólica e pacífica como "irresponsável" e que estaria a dar apoio a terroristas, o que neste cenário poderia colocá-los ainda mais em perigo. Curiosamente, o atual ministro da Defesa é advogado de profissão. Imagino que tenha enveredado por outra carreira que não o direito, porque como advogado de defesa teria sido um desastre. Nuno Melo manifestou o desejo de que Israel devolva os cidadãos aos países de origem "tratando-os com respeito". Nuno Melo também devia ter feito esse pedido ao ministro da Defesa Nuno Melo.
Após ser chamado à atenção, Nuno Melo clarificou o nosso equívoco. Afinal, aquelas declarações foram feitas enquanto "presidente do CDS". Ah, bom! Já quando declarou que "Olivença deve ser entregue ao Estado português!", veio esclarecer, depois do significativo que foi ter o ministro da Defesa de um país a proferir tais declarações, que o disse "enquanto presidente do CDS". Realmente, Nuno Melo deve ter engordado imenso nos últimos tempos, porque tem tido grandes dificuldades em despir o fato.
Este assunto é como um teste do algodão para todos. Graças às reações à detenção destes ativistas, ficámos convencidos de que Nuno Melo deixa muito a desejar como ministro da Defesa, que André Ventura não cumpre os mínimos para ser presidente da República Portuguesa e que o teu amigo que partilhou a petição para a Mariana Mortágua não regressar é realmente um imbecil.