Não fiz a pesquisa, mas seria muito fácil provar que o estudo que o professor Costa e Silva se propõe apresentar, a pedido do primeiro- ministro, é mais um de uma certamente longa lista de estudo estratégicos que o país foi solicitando às mais variadas personalidades desde o 25 de Abril.
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E, infelizmente, o risco de ter o mesmo destino de todos os outros parece-me igualmente grande. Ou seja, que o dossier final seja pouco estudado, pouco debatido na especialidade, incipientemente concretizado, e como tal, apenas, aparentemente negociado e assumido.
Tenho a certeza que o professor Costa e Silva conhece como poucos a realidade nacional bem como as respetivas determinantes no contexto global. Tenho a certeza que já tem desenhada uma estratégia maturada e não duvido que a apresentará de forma global e sustentada. E, naturalmente, não conseguirá deixar de a entregar completa e complexa como um puzzle bem conseguido.
O problema é que, na melhor das hipóteses, o puzzle tem de ser refeito e reconstruído peça por peça num processo negocial onde não terá liderança nem interferência.
Para que houvesse uma hipótese de seguimento concreto de algumas das coisas importantes que o professor Costa e Silva defenderá, teria o professor de, para o longo prazo, focar radicalmente a sua escolha. Determinar três prioridades. Três e não mais. Cegando o espectro político com a meridiana clareza da sua inevitabilidade. Assumindo que não é tudo. Fazendo perceber que virá a ser para todos.
Ao foco corajoso das escolhas limitadas teria de se juntar o território para as respostas de curto prazo.
Está visto que a pandemia atacou sobretudo as zonas urbanas dependentes do turismo ou dos setores industriais exportadores. O plano de recuperação económico terá de ser desenhado sobre esses territórios e com os protagonistas desses territórios.
Com os autarcas, empresários e outros agentes do terreno e no terreno conseguiria o professor identificar um conjunto de medidas para um apoio imediato, eficaz e legitimado.
Não acredito que assim venha a ser. E é pena. Mais uma vez.
*Analista financeira