A apreciação da atividade político-partidária e governativa vai pelas ruas da amargura.
Corpo do artigo
A apreciação da atividade parlamentar é (quase) inexistente porque se passa em larga medida muito longe dos nossos olhos.
Por imperativo profissional, fui impelida a analisar a produção parlamentar em termos de iniciativas legislativas (IL) nestas primeiras duas semanas da nova legislatura.
Fiquei atónita! Em duas semanas, foram apresentadas 101 iniciativas legislativas sob a forma de propostas de lei, recomendações ou resoluções.
A CDU (PCP + PEV) é a campeã à distância, com 59 IL, logo seguida do PAN, do BE e do CDS.
PS e PSD guardam as munições para mais tarde ou têm simplesmente falta de imaginação.
Porque é preciso tê-la. Ao lado da expectável meia dúzia de assuntos relevantes (políticas fiscais, código do trabalho, isenção de portagens), eis que estouram os assuntos em verdadeiro fogo de artifício legislativo.
Ora se defendem as pessoas com doenças inflamatórias do intestino, ora se proíbe o medicamento veterinário com diclofenac, ora se pede a sesta obrigatória para as crianças nas creches, ora se promove o combate à obsolescência dos equipamentos, ora se recomenda a proibição do financiamento público às touradas, ora se tenta a diminuição do número de deputados para, logo a seguir, se pedir uma revolução na formação profissional para que, simplesmente, se adapte aos novos tempos!
A lista completa não faz qualquer sentido e a ser um espelho mais ou menos fiel da atividade e produção legislativa parlamentar regular, justifica muito da baixa substância e credibilidade do discurso político.
Sabemos que a democracia nem sempre é eficiente e que a liberdade tem um preço. Mas, neste caso, arriscamo-nos a ir longe de mais.
Aquilo com que os nossos deputados, pelos vistos, se entretêm não ajuda o país e impõe um custo pesado à ação governativa. Claro que, pelo menos, deixa muitas pistas sobre como negociar um orçamento a baixo custo, deitando meia dúzia de foguetes.
Analista financeira