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A discussão sobre a política e a justiça a que assistimos na segunda-feira à noite na RTP1 foi um começo. Um começo interessante. Foi pena o ruído exagerado que lhe antecedeu ainda que eu perceba perfeitamente o incómodo dos que, no Partido Socialista, viram no pretexto assumido para a escolha do tema, um insulto à sua integridade democrática. Percebo e concordo. Mal vai um país que precisa de um grito de guerrilha partidária para desencadear uma discussão séria sobre o que quer que seja, sobretudo quando esse grito está no limite do aceitável, mesmo para índios e cowboys.
Dito isto, enquanto cidadã, gostava de ver o debate de segunda-feira continuado. Por vários motivos:
1. Porque é evidente o sentimento de que se trata de uma questão de regime; não vivemos, de facto, em democracia se a justiça não for mais acessível e mais eficiente;
2. Porque é evidente que nos sentimos coletivamente desprotegidos; a justiça é cara, lenta e inexpugnável, ou seja, não suscetível de crítica, o que na verdade nada tem a ver com a sua irrevogável independência;
3. Porque é evidente que não se encontrou no nosso sistema um saudável nexo entre a tutela política, que financia e nomeia e a corporação;
4. Porque é evidente que esta se protege, antes de proteger uma melhoria da sua prestação face aos cidadãos;
5. Porque é evidente que tudo isto pode ser mudado e que a mudança tem um nome: chama-se coragem política e anda pelas ruas da amargura.
Os políticos têm medo dos juízes e dos jornais. Foi o que ouvimos e pode ser verdade. E aqui também o debate foi um começo para outra reflexão não menos importante. É que:
1. Não é evidente que informar a qualquer custo seja jornalismo;
2. Não é evidente que partindo do princípio que o segredo de justiça é excecional, se publiquem, sem qualquer pudor, informações classificadas de contraditório muito duvidoso;
3. Não é mesmo nada evidente que o que é legal seja legítimo e que o que é do interesse do público seja de interesse público;
Estas questões foram bem levantadas e deviam inspirar sobretudo os que, perante o seu estatuto editorial, se obrigam a um jornalismo sólido e bem fundamentado.
Porque senão, como disse com toda a calma o diretor do "Correio da Manhã", tabloides em Portugal são todos. Pelo menos no formato...
*ANALISTA FINANCEIRA