Um primeiro-ministro que enfrenta durante mais de uma hora e meia, sem restrições, um batalhão de perguntas de jornalistas de toda a Imprensa do país, assinalando assim três anos de Governo, não se revela necessariamente um bom primeiro-ministro. Mas mostra uma tenacidade e uma capacidade políticas que deixam sem resposta toda a Oposição.
Marcelo Rebelo de Sousa fá-lo, é verdade, a toda a hora, sem hora marcada, e em toda a parte. Só que Marcelo é Marcelo.
Essa conferência de Imprensa alargada, longa e sem temas pré-definidos (até brincou, não há mais perguntas? Não me digam), longe do que sucedeu quando o primeiro-ministro assinalou os dois anos de Governo em Aveiro, então para uma plateia de "perguntadores" pagos para estarem presentes, dá de António Costa a perceção clara de um maratonista a caminho das eleições de 2019, sem grandes perseguidores no encalce, com uma vitória garantida cuja folga depende mais de imponderáveis do que do próprio.
Não está a Oposição nesses detalhes. O Bloco quer muito ir para o Governo. E há de continuar em lume brando. O PCP manter-se-á leal à tradição da lealdade até ao fim. A ambição de Assunção Cristas eclipsou-se. E Rui Rio está convencido de que sobrevive se ficar nos 28% ou 29%, acossado pelas campanhas internas que não o vão sossegar e pelas dissensões que o continuarão a inquietar.
Rio não teve a vida facilitada com a herança, mas o futuro do PSD será, em última análise, o que ele deixar de herança. Se não são as oposições que ganham as eleições, mas os governos que as perdem, a Costa só lhe resta saber gerir os imponderáveis, porque o resto são cativações, no que o primeiro-ministro é menos hábil e o PCP não ajuda porque o ultrapassa: as greves, dos enfermeiros à Autoeuropa, aos juízes e aos camionistas e professores.
As tragédias, dos incêndios a Borba, mais graves porque mostram a falência do Estado, de que o assalto a Tancos é apenas um espelho, e o abandono a que as populações são votadas.
É um país preso por fios. E os países presos por fios são cheios de imponderáveis.
*DIRETOR
