<p>Quem gosta de futebol discute a arbitragem e a famosa "lei do fora-de-jogo". Pois sucede que a noção do que é ser árbitro, quem está fora de jogo e, sobretudo, quem marca golos de forma legal pode ser utilizada para a polémica política. Convém relembrar alguns factos. O presidente da República, desde o início do seu mandato, vem defendendo o conceito de cooperação estratégica, como forma de relação com o Parlamento e o Governo. O actual Governo tem respondido com a estratégia do confronto. </p>
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Em relação ao Parlamento, o Governo assume-o através da teoria peregrina da coligação negativa. Isto é, sempre que se aprova uma lei sem o voto do PS aquilo que se pretende é ajustar contas com o passado. Não percebem que a nova realidade parlamentar exige vontade real de concertar posições, com maiores responsabilidades para o PS.
Em relação ao presidente da República a estratégia é mais dissimulada. Através de notícias cirurgicamente publicadas ou de intervenções de figuras secundárias tenta-se criar a sensação de que Belém cria obstáculos à estabilidade. Será verdade? Não. É totalmente falso. Tão falso como alguns mergulhos na grande área.
Senão vejamos. Sérgio Sousa Pinto vem acusar o presidente da República de contribuir para a instabilidade política, pois relativamente ao casamento dos homossexuais não tem o direito de se intrometer na agenda dos partidos políticos, nomeadamente do PS. Tem razão? Não. Esqueceu-se de assumir que a proposta apresentada tem origem formal no Governo (que assim pretende aglutinar a esquerda), e que o presidente apenas referiu as matérias que verdadeiramente o preocupam. Aliás, ninguém de bom senso está mais preocupado com o casamento dos homossexuais do que com os 500 mil desempregados. Contributo para a instabilidade política por parte do presidente? Nenhum, até porque não foi o presidente a trazer esta questão fracturante para cima da mesa. Enfim, quanto a esta matéria nem perante uma tempestade num copo de água estamos, e na altura devida os poderes da Assembleia, e do presidente, serão devidamente exercidos.
Já antes Ricardo Rodrigues, deputado do PS, apelou ao presidente para actuar preventivamente relativamente à votação do Orçamento Rectificativo, pois a sua não aprovação constituiria um passo para um "Governo de Assembleia". Tinha razão? Não. O presidente não tem de dar sentidos de voto aos partidos representados na Assembleia, assim determina o princípio da separação de poderes, por muito que Sócrates sublinhe a "combatividade" destes dois dirigentes parlamentares…
O que se pretende com todas estas derivas? Algo muito simples. Desviar a atenção do desemprego, défice, dívida pública e crise económica, trazer o árbitro-presidente para o centro da polémica, e criar a ideia de crise política generalizada. No fundo, fazer antijogo e tentar intimidar o dono do apito que não vai em cantigas. Não adianta fazerem-se à falta, ou tentarem empatar tempo. Está na altura de começarem a jogar, que é isso que as pessoas querem e esperam.
Felizmente, é cada vez mais evidente quem neste jogo está fora de jogo: o PS e o Governo que sustenta. Infelizmente, é Portugal quem está a perder o desafio.
P.S. 1 - Por razões bem diferentes quero salientar, hoje, as intervenções cívicas de D. Manuel Clemente e do dr. Gomes de Pinho. Aos dois, como portuense e como português, muito obrigado.
2 - A todos os colaboradores e leitores do "Jornal de Notícias" desejo um Santo Natal e um ano de 2010 com todo o sucesso.