Armas, dinheiro, guerra e fome. É um carrossel pestilento que gira em torno de um fosso. Opressores e oprimidos. Adultos a brincar à morte, crianças mortas sem brincar. Benefício e custos. Meios para atingir um propósito. Fim.
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Amal tinha sete anos. Era o início. Devia ser. Não da vida, que não há dignidade - e por isso não lhe chamemos vida, antes sobrevida - naquela trágica reunião de ossos que não deixa transparecer as formas habituais de uma criança. É impossível não nos encolhermos ante o retrato áspero daquele ser humano faminto. Amal teria sido carne para canhão se houvesse nela carne. Não há. Só pele e osso. A guerra no Iémen é complexa, mas o tal carrossel pestilento que gira em torno de um fosso exala o odor de sempre. Armas fornecidas pelo mundo ocidental, compradas pela Arábia Saudita e despejadas sobre um povo. O rosto anguloso dessa menina-cadáver foi captado por um repórter do "The New York Times" e logo desfraldado como bandeira fúnebre dos indefesos. A encarnação da fome severa no rosto sumido de um anjo. Amal é uma alma penada entre quase dois milhões de crianças subnutridas. Morreu em casa, nos braços da mãe. Porque não havia como levá-la de novo para o hospital. O coração dessa mãe está exangue. E, no entanto, tem de haver nele lugar para os outros filhos condenados à morte. Amal, do árabe "esperança". Armas, dinheiro, guerra e fome.
Jornalista