No passado dia 12, completou-se o centenário do nascimento de Francisco de Sousa Tavares. Para as gerações mais novas, recordo uma imagem recorrente do Largo do Carmo no dia 25 de Abril de 1974.
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Aparece um senhor, de fato e gravata, em cima de uma guarita da GNR, com um megafone em punho que, entre outras coisas, afirma com voz tonitruante: "É a libertação da Pátria". De facto, Sousa Tavares contribuiu como pôde para essa "libertação", antes e depois daquele dia. Foi um grande advogado, também de presos políticos. Presidiu ao Centro Nacional de Cultura, que cosmopolitizou dentro das circunstâncias possíveis, ao lado de sua Mulher, Sophia de Mello Breyner Andresen. Integrou as principais iniciativas laicas contra o Estado Novo, designadamente a "Resistência Cristã", ao lado de outros católicos como José Pedro Pinto Leite, João Benard da Costa, Nuno Bragança e Sophia. Esteve detido pela PIDE. Pertenceu à linha "social-democratizante" do PS contra a esquerdista de Manuel Serra (com, entre outros, Alfredo Barroso, Pulido Valente e Cunha Rego), e é por essa altura que começa a sua actividade jornalística.
Polemista incansável, de uma notável coragem física e moral, desassombrado e livre como já não se fabrica, Francisco vai dirigir, em 1976 e até 1984, o vespertino "A Capital" onde publica editoriais vigorosos e inesquecíveis para quem seguia, ainda jovem e crédulo, a vida pública nacional. Liga-se aos Reformadores em 1979 - onde o conheci -, sendo eleito deputado por Évora nas listas da AD. "Eanista", afastou-se do presidente em 1980 para integrar a comissão política da malograda candidatura de Soares Carneiro. Militou seguidamente no PSD e integrou o Governo PS/PSD, chefiado por Mário Soares, como ministro da Qualidade de Vida. Entre o final dos anos 80, e até à morte, em 1993, Sousa Tavares regressou intermitentemente aos jornais com uma coluna.
Num país com uma pandemia por encerrar e com uma crise a começar, como notou o presidente da República na enxuta alocução do 10 de Junho, a memória frontal de Francisco de Sousa Tavares, perpetuada nomeadamente em dois volumes de "Escritos Políticos", ajuda nestes tempos tão deletérios quanto oportunistas e de Oposição nula. Escrevia ele em Agosto de 1977: "o governo de uma democracia tem o direito de ser atacado com lealdade e verdade, quer se trate de combate ideológico quer de uma crítica aos actos de governo". É que "nenhuma democracia é possível se tiver como lema o alinhamento por baixo".
Jurista
o autor escreve segundo a antiga ortografia