Francisco e a esperança renovada na Igreja
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Num texto recente, publicado no “L’Osservatore Romano”, o cardeal José Tolentino de Mendonça descrevia Francisco como um “incansável profeta da esperança”. A definição, bem mais profunda do que este breve enunciado, ajusta-se na perfeição a 12 anos de um pontificado notável, que resgatou a Igreja da indiferença e a reconciliou – como também recorda Tolentino – com os “grandes valores do evangelho e do humanismo”.
Desde o início da sua missão, o Papa Francisco soube fazer diferente. Rejeitou a ideia de uma Santa Sé fechada sobre si própria e autorreferencial, para ser um órgão vivo e atuante, disponível para acolher as “periferias”, os mais vulneráveis e os marginalizados. A visita que fez a Lampedusa em 2013, pouco tempo depois da eleição e em plena crise migratória, marcou o tom e a forma de alguém que queria estender a mão aos mais frágeis e liderar pelo exemplo.
A causa dos refugiados foi uma das marcas simbólicas mais fortes do seu trajeto. Assim como os repetidos atos de contrição pelos casos de pedofilia e o rompimento do segredo pontifício, essencial para a abertura das investigações judiciais. Francisco promoveu também o respeito pelas minorias étnicas e teve um gesto de superior tolerância para com os casais do mesmo sexo: “quem sou eu para julgar?”. Fez, ainda, enormes progressos do diálogo inter-religioso, com aproximações à Igreja Ortodoxa, a visita ao Muro das Lamentações ou o périplo pelo Sudeste Asiático. Foi um mensageiro de paz, justiça e respeito pela dignidade humana.
É legítimo assumir que Francisco fez o que é suposto um Papa fazer. Mas o seu legado ultrapassa esse determinismo e assume-se como uma verdadeira reforma da Igreja Católica, que sob a sua liderança voltou a ser uma instituição respeitada e ouvida, além de se constituir como um reduto de esperança e acolhimento para crentes e não crentes.
De forma simples, espontânea e humilde, o cardeal Jorge Bergoglio tornou-se num dos líderes mais inspiradores do nosso tempo e num digno sucessor de São Pedro. Oxalá o seu testemunho continue a ecoar pelo Mundo e se cumpra o desejo que professou na sua última aparição pública: “a paz é possível”.