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Anunciam as agências que Francisco vai aos Estados Unidos na terceira semana de setembro, e admite-se que faça escala em Cuba.
Faz hoje oito dias, uma evocação do Papa a recordar o que considerou ter sido o primeiro genocídio do século XX provocou um abalo entre o Carmo e a Trindade das relações internacionais. Francisco reportava-se ao centenário da matança de 1,5 milhões de arménios que tombaram às mãos das tropas turcas, em 1915. E tal referência a um dos episódios mais obscuros do século XX não provocaria eco não fora a lembrança vir donde veio.
Ora - sabendo nós que o Papa é a pedra angular da Igreja Católica, que é universal, e que o chefe da Igreja é, por inerência, o chefe desse minúsculo estado que é o Vaticano - o choque diplomático de domingo volta a colocar Francisco na primeira linha da cena política mundial. E não é por um episódio, é deliberado e é por vocação, numa tendência cada vez mais clara desde que, passam agora dois anos, Jorge Bergoglio tomou o lugar do apóstolo Pedro.
O êxito mais recente deste sinal, que visa devolver à Igreja a influência global que ela não tinha há décadas, foi a ação mediadora de Francisco no restabelecimento das relações entre Cuba e os Estados Unidos. Obama agradeceu pública e penhoradamente.
O Papa que ganhou a simpatia de Vladimir Putin, pelos insistentes apelos no sentido de evitar que o Ocidente se precipite num ataque à Síria, é o mesmo que se oferece para mediar o conflito colombiano. E é também o mesmo que, há um ano, conseguiu juntar à mesa, no Vaticano, o então presidente de Israel, Shimon Peres, e o palestiniano Mahmud Abbas.
Francisco enfrenta, é certo, grandes desafios dentro da própria Igreja. Mas, em poucos meses, o argentino devolveu ao Vaticano o rosto de um importante ator internacional como já não se via desde o início do pontificado do polaco Karol Wojtyla, há quase 40 anos. Pela primeira vez, nesta geração, o papado dispõe de uma voz que conta nos centros onde se tomam decisões globais.
Num Mundo sufocado por tanto ruído mediático são cada vez mais necessárias as vozes influentes e de referência, pelo testemunho e pelo crédito para serem escutadas.
