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Apesar do aumento do preço da gasolina, apesar da consciencialização das matérias ambientais que nos afetam, apesar das alterações climáticas com efeitos concretos no planeta e à escala global, apesar das pandemias e inúmeras doenças que surgem e afetam cada vez mais a saúde pública, apesar de se investir cada vez mais em infraestruturas cicláveis e no transporte público, apesar dos conhecidos benefícios para a saúde promovidos pelo caminhar, apesar de tudo isto, na nossa cidade, o carro aumenta a um ritmo frenético.
Ou seja, algo de muito grave está a passar-se!
De resto, dados do INE 2021 mostram este panorama em todo o nosso país, tendo-se acentuado ainda mais nesta última década.
Porque insistimos em andar todos de carro, mesmo para fazer um quilómetro? Ou, nas grandes cidades, porque insistimos em passar duas a três horas, todos os dias, metidos dentro de um automóvel? Não teremos novas questões importantes para resolver, que ultrapassam a mobilidade urbana e que são motivadoras deste frenético tráfego que se vive recentemente?
Se, por um lado, ainda continuamos com um défice de cobertura da rede de transportes, por outro, devemos refletir sobre a habitação e as suas políticas que, todos os dias, empurram famílias a viverem nas periferias. Ou no capitalismo obsessivo que espoletou valores imobiliários incompreensíveis, e, ainda, no turismo que, embora relevante, em exagero pode ter efeitos perversos no modo de vida dos cidadãos!
Estas, sim, sérias questões para sérios problemas atuais! Mas enquanto isto, falamos das trotinetas como tema principal, desfocando-nos dos reais problemas que nos levam ao caos instalado.
Sejamos mais sérios!
*Especialista de Mobilidade Urbana