Em geral, não é notícia o que corre bem nas políticas públicas, nem durante as campanhas eleitorais, nem fora delas. É o caso da política científica e dos bons resultados que tem tido em Portugal.
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Nos últimos cinco anos, a balança de pagamentos tecnológica do país é positiva e cresce sistematicamente; o número de investigadores na população ativa aumenta para um máximo também histórico, de cerca de 10,2 investigadores por mil ativos em 2020, 41% dos quais nas empresas; a despesa total em I&D atingiu um novo máximo em 2020, crescendo mais de 43% desde 2015.
Concorreram para esse efeito vários fatores, sobre os quais importa refletir. O principal tem a ver com a persistência com que tem sido prosseguida uma estratégia bem desenhada desde o início. Quis a sorte que o autor desse projeto, José Mariano Gago, tivesse sido ministro duas vezes, e que o atual ministro, Manuel Heitor, tivesse sido seu secretário de Estado. Em ambos os protagonistas houve uma visão de longo prazo e um saber-fazer por etapas, procurando "amarrar" bem cada uma delas, para dificultar qualquer retrocesso.
Isso não significou, é claro, que não tivesse havido ajustes e acrescentos. Um deles, por exemplo, foi a Estratégia para o Espaço, aprovada em 2018, cobrindo, por exemplo, a exploração dos dados e sinais de satélite e sua utilização em diferentes setores, como a agricultura ou a saúde pública.
Para além de continuar o trajeto do aumento do investimento em I&D, para alcançar a meta de 3% do PIB até 2030, existem outros impulsos que devem estar na agenda do próximo Governo.
Em primeiro lugar, é indispensável promover a relação entre a ciência e a economia, para fomentar a recuperação económica e a criação de emprego qualificado, retendo no país os quadros técnicos que hoje formamos.
Em segundo lugar, é preciso apoiar a ciência fundamental, "aberta" e colaborativa, para promover novas fronteiras do conhecimento e superar os desafios que emergem na investigação, do cancro à alteração genética de alimentos, da física do universo às nanociências, assim como as dinâmicas socioculturais em que estamos envolvidos.
Por último, é necessário fomentar as carreiras de investigação e aumentar a profissionalização dos investigadores nos setores público e privado.
Portugal tem de continuar a ser uma parte ativa na revolução científica em curso por esse mundo fora e na UE. Foi o investimento na ciência que permitiu termos tão rapidamente uma vacina para esta terrível pandemia. Se não for por mais nada, recordemo-nos disso para o valorizar e reforçar a política de ciência. Dela depende em grande parte o progresso económico e social hoje em dia.
Eurodeputada do PS