Os últimos dias foram exemplo claro desta tentação que o Dicionário da Porto Editora descreve como "depreciativo desvio de atenção de uma questão ou situação para um indivíduo relacionado ou identificado com ela, com perda de objetividade".
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Um pequeno partido consegue eleger representação parlamentar. A coisa não corre bem e percebemos que há uma tensão entre a intervenção parlamentar e os desígnios do partido. Normal seria debater a orientação original do Livre, se sim ou não a cartilha ideológica da deputada eleita afina pelo mesmo diapasão ou quais os grandes objetivos postos em causa por este desacerto logo no início da legislatura.
Mas não. Tudo a que tivemos direito se resumiu a uma sobre-exposição de Joacine Katar Moreira, em contraponto com Rui Tavares. Em proporção inversa de excitabilidade.
Ao lado corria a campanha para a presidência do PSD. E, com muito mais decoro, o modelo repetiu-se. O feitio de Rio, a resiliência de Rio, a capacidade de união de Rio, e mais isto e mais aquilo por contrapartida, essencialmente, do futuro de Montenegro.
Que diferenças fundamentais há entre os dois, para além da fulanizada maior ou menor "sujeição" ao Partido Socialista, é matéria que ficou reservada à imaginação de cada observador e, o que é pior, de cada militante eleitor.
E eis que chega o caso Isabel dos Santos. Depois de anos de informação mais ou menos neutra sobre as crescentes participações em grandes empresas portuguesas, com pouquíssima ou nenhuma informação sobre a empresária, o que a ninguém pareceu fazer falta, eis que, por via de uma massiva fuga de informação, se estatela nos nossos ecrãs a sua vida pessoal, as suas propriedades, numa devassa furiosa e incontinente.
E, no entanto, não vejo porque tenham tantos de se encarniçar. À calma com que se noticiaram as tomadas de posição na Galp, na Efacec ou na Nos, por exemplo, devia agora corresponder a serenidade de uma explicação transparente sobre as, seguramente corretas, respetivas tomadas de posição. Ou não?
Analista financeira