O futebol português está marcado nos últimos meses por cenas canalhas em dose superior à habitual. Seriam dispensáveis, naturalmente, não fosse a impossibilidade de o colocar numa redoma de vidro à prova de bala, contra gente mal formada, oportunista, capaz até do pior comportamento canino: morder a mão a quem lhes deu de comer, isto é, viabilizou a sua ascensão social.
Corpo do artigo
Incontroverso: pulula, de facto, demasiada gente de princípios pequenotes no futebol português.
É paradigmático da falência da credibilidade o entorno do União de Leiria e o modo como está a ser gerido todo o processo laboral dos seus atletas, primeiro de pré-aviso de greve, depois de rescisões unilaterais de um punhado de profissionais a quem foram sobrando promessas de pagamento de vários meses de salários em atraso até à resiliência graças a manobras de bastidores que garantiram oito-jogadores-oito para o jogo de ontem com o Feirense.
Quando 80 por cento do quadro de futebolistas profissionais em Portugal tem ordenados em atraso e não se retiram consequências, há, evidentemente, um falhanço clamoroso nos mecanismos de verificação de contas e licenciamento de clubes e SAD. E a responsabilidade, queira-se ou não, passa pela ineficácia de controlo da Liga e a chusma de aldrabices que lhe são apresentadas - a começar por jogadores a declarar não terem créditos de entidades patronais que lhes acenam com promessas vãs e a acabar em orçamentos mentirosos.
Neste patamar, das duas uma: ou quem dirige a Liga dos clubes tem a hombridade de denunciar falcatruas e de combater a concorrência desleal ou, então, faz de conta e cola-se (com cuspo) ao poder pela demagogia fácil a capturar votos - como a de ampliar o número de falidos a participar nos campeonatos profissionais ou pela ideia peregrina de prometer aumentar o bolo das receitas dos direitos televisivos em vez de denunciar a tendência (realista) para o minguar do mercado, o que garantidamente não dá para mais do que fazer uma repartição por igual número de fatias, embora de modo diferente.
Nesta fase assiste-se, pois, a uma luta irresponsável e demagógica de uma série de senhores que o atual presidente da Liga usou como coelhos a quem se acena - mas não se dá - uma cenoura e ainda não perceberam estar a meter o futebol português num sarilho dispensável.
Quando o presidente da Liga, Mário Figueiredo, tem como mais ruidoso apoiante o inenarrável presidente demissionário da SAD do Leiria, João Bartolomeu, está tudo dito. A indústria do futebol dispensa figuras populistas adeptas de comportamentos a fazer lembrar um elefante numa loja de porcelanas e a mais rasca das artistices.
É urgente recolocar ordem, estabilidade, nas competições do futebol profissional.
O atual clima de guerrilha é de todo pernicioso.
Como na Lei de Gresham um dia lembrada por Cavaco Silva para definir então a situação política do país, é tempo de repor credibilidade. A má moeda não pode substituir-se à boa moeda.