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O que significa um compromisso? Segundo o dicionário, qualquer coisa como ficar obrigado por promessa ou acordo a atingir uma ideia que tem subjacente uma responsabilidade conjunta.
Esse compromisso tem estado muito arredado da sociedade portuguesa. Aquela ideia de que é possível um acordo, entre duas partes, de que algo poderá ser realizado ou concretizado não tem sido possível atingir porque muitos fogem do compromisso porque consideram a ideia de consenso como sinónimo de falta de convicções.
Tem sido esta ideia que se começou a impor nas sociedades abertas, através das suas redes sociais, como uma comunidade maniqueísta onde só existe o mal e o bem, o preto e o branco, a dor e o prazer ou a doença e a saúde. Sabemos pela leitura atenta da história que nem sempre foi assim.
Uma das melhores ideias de compromisso foi, durante a II Guerra Mundial, a aliança entre as democracias ocidentais e o comunismo soviético para se derrubar o fascismo e o nazismo. Líderes políticos consideraram ser necessário conjugar esforços para derrubar forças adversárias cuja ideologia previam trazer um mal maior à comunidade humana. A seguir, esse compromisso perdeu a sua forma consensual e entre 1945-1989 sobreviveu na forma de uma guerra fria, ainda que a ideia de Europa, sob a égide de Schuman ou Monnet, começasse a desenvolver-se primeiro num modelo económico, depois num modelo político e social.
Na ciência, também assistimos à concretização dessa ideia, como aconteceu durante a pandemia, onde o esforço para se obter uma vacina exigiu da comunidade científica um empenho de compromisso e uma troca de informações com vista a conseguir-se debelar uma pandemia que paralisou a Humanidade e tantas vidas levou.
Cinquenta anos após a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, na tal manhã límpida e clara de que falava Sophia, existe demasiada suspeição na sociedade portuguesa e falta de convicções das ideias que permitam o compromisso. O que será esse compromisso? Uma vontade de obter consensos sobre aquilo que nos une, que é muito mais do que o que nos divide.
Sabemos que existe uma vontade de fazer mais espetáculo nas redes sociais e na televisão do que procurar obter posições moderadas perante os extremismos radicais que surgem na Direita e na Esquerda.
Neste novo tempo onde a democracia representativa perde sentido perante o instantâneo das televisões e das redes sociais, pensamos ser tempo de nos perguntar o que estamos aqui a fazer?
Conhecemos as elevadas taxas de abstenção dos eleitores, mas também sabemos que a maioria silenciosa não fica em casa quando está em causa o seu futuro e o das gerações dos seus filhos e netos.