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Casualmente, as actuais eleições presidenciais estão indissociavelmente ligadas a um momento de fortíssima pressão internacional sobre o nosso país. Vivemos uma crise sem paralelo e a ameaça de uma intervenção externa, além de comprometer irremediavelmente, e por vários anos, a imagem e reputação de Portugal perante investidores externos - recorde-se que a atracção de investimento directo estrangeiro é crucial para a retoma económica e para a criação de emprego - vaticina duríssimas "receitas de austeridade", com eventuais fortes repercussões no sistema público de Educação, de Saúde e de segurança social, assim como no ordenamento jurídico-laboral.
Note-se que o que está em causa neste momento de resposta ao ataque financeiro internacional à dívida soberana portuguesa é, também, o nosso modelo de sociedade, importando saber se, não obstante as adversidades financeiras, os portugueses desejam defender e preservar áreas sociais fundamentais públicas, como são a Educação, a Saúde e a segurança social.
E se nestas eleições se chegou mesmo a apregoar riscos de uma crise política em Portugal, do que o país menos precisa no actual momento é de um discurso institucional fragmentário desviando-se do que há a salvaguardar: o Estado social e os seus valores, a democracia e os seus equilíbrios.
Sendo este um excepcional tempo de incerteza e desafios, exige-se dos mais altos dirigentes políticos do país um elevado sentido de Estado e de patriotismo, distanciando-se de insignificantes e perniciosas querelas partidárias. Precisa, isso sim, de uma união de esforços institucionais, de uma atitude que estimule colectivamente o crescimento económico, a capacidade das nossas empresas exportarem ou do nosso território atrair e manter investimento. Necessita de uma voz que o defenda, que lute pela sua autonomia, que dê ânimo aos portugueses e que seja, simultaneamente, uma garantia de estabilidade, fundamental para resolver os nossos problemas.
A história de um país é, sobretudo, feita de uma luta contínua entre a superação e a resignação e hoje, mais do nunca, é necessária uma atitude de confiança que, nas palavras do poeta, mostre que "há sempre uma candeia dentro da própria desgraça, que há sempre alguém que semeia canções no vento que passa".