Nos últimos anos a Europa tem vindo a perder terreno na produção de medicamentos. Deixou de estar na dianteira no que respeita à inovação e também desinvestiu na industrialização e na produção. A Europa enfrenta assim um grande desafio, que é ganhar competitividade face a outros mercados em ascensão, como os EUA, a China e a Índia.
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A escassez de medicamentos que ultimamente tem sido noticiada não é exclusiva de Portugal. Todos os países na Europa têm vindo a ser afetados.
Hoje, com frequência, ouvem-se relatos de pessoas que se deslocam a farmácias para comprar medicamentos que estão em rutura. É necessário perceber qual o tipo de problemas específicos do nosso país e encarar os mesmos sem qualquer tipo de preconceito. A título de exemplo, a reserva estratégica do medicamento pode ser uma das soluções para determinadas situações de carência ou emergências.
Atualmente as farmácias assumem um papel muito importante no acesso aos medicamentos na medida em que são lugares de grande proximidade com a população. Sabemos que existem ainda muitos casos em que o doente tem de se deslocar ao hospital para ir buscar medicamentos, o que implica, não só gastos com a deslocação, mas também absentismo laboral. Os tempos evoluíram e tudo o que puder ser feito na farmácia representará, seguramente, ganhos para as pessoas com doença e para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A mais-valia da dispensa de medicamentos em proximidade já tinha sido demonstrada com alguns projetos-piloto nacionais, mas ganhou relevância durante a pandemia por covid-19. Tem a particularidade de garantir ao doente crónico controlado o acesso em farmácia comunitária a medicamentos que são dispensados em ambulatório hospitalar, tendo sempre asseguradas quer a monitorização farmacêutica quer a vigilância médica.
No centro desta questão deverá estar a intenção de garantir os cuidados de saúde aos cidadãos, com qualidade, segurança, eficiência e melhoria contínua.
É necessária uma estratégica específica que tem de ser pensada, mas também uma grande articulação entre o Ministério da Saúde, os médicos e os farmacêuticos. E, para uma tomada de decisão sustentada, é importante que os decisores políticos ouçam primeiro os especialistas que por serem conhecedores da realidade são quem melhor analisam e indicam o caminho mais certo a seguir. Tem também de haver exigência e empenhamento, tanto na definição de uma estratégia como na sua concretização.
O acesso ao medicamento, apesar dos vários dilemas que tem por resolver, não é o maior dos problemas do SNS, mas merece não ficar para trás na lista das prioridades para as políticas de saúde. Mais uma vez o princípio da complementaridade pode revelar-se um instrumento decisivo, tendo agora como protagonistas as farmácias, os farmacêuticos e os médicos.
*Médico