O Brasil dá hoje posse a Bolsonaro, quando acontecer por cá não estranhem. O populismo de Direita que faz caminho nas democracias ocidentais também vai aparecer em Portugal. E nem se percebe que possa causar surpresa, quando há uma percentagem significativa de eleitores a quem nunca ninguém ajuda a dar a volta à vida.
Alternando entre governos do PS e governos do PSD, em Portugal, há sempre mais de dois milhões de pobres. Mesmo com um governo apoiado para toda a Esquerda, os pobres continuam pobres, porque aos pobres parece vedado o acesso ao famoso elevador social. A este exército de eleitores juntem um de idêntica dimensão, constituído por gente de classe média baixa, a viver nos subúrbios das grandes cidades, para quem as melhorias na vida significam quase sempre maior capacidade de endividamento, a pagar com juros altos quando a crise chega. Sabem quem andou a votar nos populistas da América, do Brasil e da Europa? Pois é!
Para estes eleitores agrada um discurso que apresenta os outros como o problema, mais ainda se tratar todos os políticos como corruptos e as elites como estando interessadas em manter tudo como está. Incluir promessas de que tudo vai mudar ajuda. Mais ainda se a promessa for a de reduzir drasticamente as funções do Estado. Sabendo-se que entre os pobres e os remediados há um grande potencial de eleitores para um partido populista, é fácil de perceber que esse potencial também existe nos eleitores com mais rendimentos.
Há muita gente cansada de pagar tantos impostos para ter do Estado os serviços que tem tido. Uma vez mais, com esses partidos - quatro anos PSD/CDS e outros quatro PS com apoio do PCP e do BE - vivemos em recorde permanente de carga fiscal e com serviços públicos, como a Saúde, a Educação, as Infraestruturas ou os transportes, em permanente deterioração. Não falta quem queira ver o Estado pelas costas.
Pensar que Portugal está imune a populismos de Direita é não ter a noção que há um número significativo de eleitores que já não acredita que o atual sistema partidário seja capaz de resolver os seus problemas. Reconhecer que isto é assim não faz de ninguém populista, fechar os olhos à espera que não exista é que faz com que esse potencial vá crescendo.
JORNALISTA
