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Não falta muito para que passem sete anos sobre uma das últimas crónicas que escrevi neste jornal, onde discorria sobre José Sócrates, a confiança dos cidadãos nas instituições e a forma como todo um país se mostrava zangado e cansado.
Referi a "falta de crença no sistema político, nomeadamente nos partidos políticos", a "presença asfixiante do Estado" e a "Justiça como o setor onde as reformas mais tardam ou menos efeito têm tido".
Como imaginam, ao escrever isto não tinha como pano de fundo a prisão de um ex-primeiro-ministro, a derrocada de um banco como o BES, ou as suspeitas de corrupção nas mais altas esferas do Estado. Ainda não tinha visto o resgate financeiro, a lenta erosão da máquina do Estado, ou o aprofundar do fosso entre eleitos e eleitores. Ainda não tinha vivido o drama de um país inédito, era só a nossa "novela da vida real".
Quase sete anos depois, as referências que fazia podem ser destacadas a negrito e o cansaço dos portugueses confunde-se já com esgotamento, que tanto pode redundar num permanente baixar de braços como num ato tresloucado - isso nos dirão as próximas eleições.
Quase sete anos depois, tornou-se mais difícil fazer jornais e não ficou muito mais fácil lê-los. Tal como diz Rui Rio, "o país andou muito depressa" e em poucas ocasiões o fez na melhor direção. Por isso, entre tantas páginas de surpresa, com que vamos contando a realidade aos nossos leitores, deixem-me que me renda à notícia da normalidade (págs. 4 e 5) que é haver gente que com a vinda do Natal e da passagem de ano está disponível para gastar em festas e em alegria e, dessa forma, celebrar a vida e o inexorável passar de mais um ciclo, nem que tenhamos toda a dificuldade de prever em que mundo vamos estar quando soar a 12.ª badalada, quanto mais onde estaremos daqui a sete anos.