A nossa vida mudou muito nos últimos seis meses. Se os mais idosos têm sido as maiores vítimas desta impiedosa pandemia, os jovens estarão entre os mais atingidos pelas incalculáveis consequências económicas de um vírus cuja expansão ainda desconhecemos. Esta juventude sacrificada está hoje à deriva. Em termos pessoais e profissionais. E isso será uma marca profunda nas nossas sociedades.
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Quando falamos de jovens, referimo-nos a perfis diferentes: àqueles que estudam, àqueles que estão à procura de emprego ou têm empregos precários; também podemos falar daqueles que exacerbaram a "síndrome da cabana" ou daqueles que, quando chegou a hora de desconfinar, adotaram sucessivos comportamentos de risco, procurando uma liberdade, inesperadamente em cativeiro durante meio ano. Todos unidos por uma certa perda de rumo.
Vejamos o caso dos estudantes que finalizaram o Ensino Secundário. Que perspetivas terão aqueles que não rumam para o Ensino Superior? Poucas, porque as novas contratações praticamente desapareceram nos setores público e privado. Está também aqui a explicação para o atual crescimento do número de candidatos ao Ensino Superior. No entanto, aqueles que iniciam o ensino universitário também terão um percurso árduo. Em muitas instituições, as aulas decorrerão em modo presencial e remoto, subdividindo grupos e espartilhando tempos letivos para evitar que haja muita gente nos mesmos espaços físicos. Os campi universitários deixarão de ter a habitual agitação coletiva através da qual se ia criando um espírito universitário tão marcante nos estudantes.
Quem procura entrar no mercado laboral vê-se perante dois obstáculos dedálicos: a redução drástica de oportunidades e a dificuldade em integrar-se em ambientes que agora se desenvolvem à distância uns dos outros. Chegados pela primeira vez a um local de trabalho, os jovens têm de conviver com colegas de máscara que falam o menos possível uns com os outros. É duro. Muito duro. Há ainda aqueles que, neste período, estavam empregados, mas perderam esse precário vínculo laboral e ficaram sem qualquer perspetiva de arranjar nova ocupação.
Será muito pesado o futuro desta geração covid. Aos constrangimentos profissionais, junta-se ainda um turbilhão interior, vivido por uns através da síndrome da cabana que os imobiliza dentro de casa e por outros através da vontade de conviver intensamente com os seus pares em espaços que são de todos. Afinal, esta pandemia será apenas a figura de proa de uma inquietação mais global cujos efeitos ainda ninguém conseguiu calcular.
Professora Associada com Agregação da Universidade do Minho