Paulo Portas, o ex-líder e actual líder do PP, antigo CDS, tinha a expectativa de convencer um demissionário da sua Direcção a voltar atrás na decisão de se demitir e, por isso, escondeu de todos o abandono.
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Apanhado, resolveu confessar o "crime" de falsificação. Confessou igualmente que geriu mal a expectativa e isso significa que, afinal, não é um grande político, porque um grande político sabe gerir as expectativas. A pequena mentira de Portas também o desqualifica como defensor da moral e bons costumes, uma coisa muito cristã, mas não o torna diferente de muitos outros políticos.
A Dama de Ferro - A maior expectativa dos portugueses - dos que ligam à política - diz respeito, no entanto, ao que vai dizer a líder do maior partido da Oposição, na Universidade de Verão do PSD. Amanhã, por volta da hora do almoço, estaremos todos com os ouvidos colados à rádio, porque mais de um mês de silêncio só pode significar um grande discurso.
Estamos preocupados com a insegurança e, portanto, esperamos ouvir de Manuel Ferreira Leite as soluções para as nossas preocupações. A Justiça não funciona e queremos saber quais são as propostas de Manuela Ferreira Leite para garantir o funcionamento eficaz de um Estado de Direito. A economia não cresce o suficiente para terminar com a sensação de crise e, é claro, que esperamos ouvir Manuela Ferreira Leite traçar um caminho para a prosperidade. Menos que isto é frustrar as expectativas dos portugueses.
Os analistas e comentadores olharão para o discurso da presidente do PSD com alguma condescendência, qualquer ideia que saia da sua intervenção, se for consistente, dará a ideia de um regresso da Oposição. Os portugueses é que, aflitos que andam, não se contentam com pouco. Só aceitam uma verdadeira alternativa.
A economia… - Foram também as expectativas criadas que traíram José Sócrates. O primeiro-ministro contava entrar no final do mandato com uma conjuntura favorável, onde pudesse pôr a render as mudanças estruturais que produziu no aparelho do Estado, mas o Mundo não ajudou e Portugal não está preparado para resistir às constipações de Espanha.
O que se segue volta a ser gestão de expectativas. Poderá José Sócrates alimentar com o seu discurso optimista um eleitorado que esperava mais dos socialistas? Não parece! O líder do PS, que vai ter de procurar nova maioria absoluta, só pode vencer com um discurso realista em que os eleitores acreditem que sem ele será pior. A crise pode jogar a favor de quem governa, mas para isso é preciso que os portugueses tenham medo da mudança.
Uma tripla - Uma aposta nos resultados eleitorais do próximo ano só pode ser uma tripla. Sócrates ganha, convencendo os portugueses que a crise é externa e que o caminho que traçou é que evitou o pior. Ferreira Leite vence, fazendo acreditar os portugueses que a gestão do seu silêncio é, apenas, uma forma mais séria de estar na política. Os dois empatam e quem ganha são os partidos de Esquerda (PCP e Bloco), porque quando tudo falha é mais fácil acreditar na utopia.
Este empate servirá, no entanto, de muito pouco, porque o que se joga nas eleições do próximo ano é o mesmo de sempre: queremos um governo do PS ou um governo do PSD? Quem será melhor primeiro-ministro, José Sócrates ou Manuela Ferreira Leite?