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Muita água tem corrido sobre o trágico acidente do Elevador da Glória. Dezasseis vidas perderam-se de forma súbita e injusta. Cada morte é uma tragédia irreparável. Contudo, é essencial manter serenidade e dar tempo para as peritagens.
Este tipo de mobilidade vertical é das mais seguras do mundo. E os mais históricos foram-se modernizando e adaptando. Nunca a segurança foi tão grande como hoje. A Engenharia sempre respondeu, com técnica e resiliência. Não fosse assim, o funicular do Bom Jesus não estaria a operar há 143 anos ou o da Nazaré há 138. Claro que a morte destas pessoas é muito dolorosa. Mas, em 145 anos de funcionamento, trata-se de um episódio único. O mesmo não acontece com as 700 pessoas que morrem nas estradas portuguesas todos os anos, como se caíssem três aviões Boeing cheios de passageiros. E se projetarmos esse número para o mesmo período de vida do Ascensor da Glória, falamos de 100 mil vítimas. Equivale a ver desaparecer uma cidade do tamanho de Viseu.
Mas porque estas mortes são dispersas e silenciosas, permanecem quase invisíveis e nada se faz. Aliás, a seguir às tragédias, colocamos "fita cola" nas feridas, e "agrafamos" o tema, mal os media mudam o cenário dos diretos. Somos um país do improviso. Um país onde não planeamos, os projetos apenas são feitos porque sim, a prevenção é um capricho, a manutenção é entendida como um custo, e por isso, hoje adjudica-se apenas pelo preço mais baixo. Acreditemos que o verdadeiro acidente não está na engenharia dos sistemas de mobilidade, mas na cultura de um povo que aprecia mais as festas de verão nas terrinhas, que os investimentos numa sociedade mais segura