A "boutade" que, em 2014, Luís Montenegro eternizou, numa entrevista a este jornal, podia ser resgatada para a atual realidade socialista.
Corpo do artigo
Disse isto, o então líder parlamentar do PSD: "A vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor". Passaram nove anos e a sensação de déjà-vu invade-nos. As perspetivas económicas são animadoras, as estatísticas de emprego não desmerecem e o défice está mais controlado do que um animal doméstico. Ainda assim, a generalidade dos portugueses viu as despesas mensais aumentar e o rendimento diminuir, a expensas, sobretudo, de uma inflação impiedosa e de uma escalada nas taxas de juro. Ora, a acompanhar este movimento contraditório está a engorda das contas públicas: os cofres do Estado estão forrados, a Segurança Social teve o maior excedente em mais de uma década e a cobrança de impostos continua a ser um monstro insaciável.
É neste tabuleiro que António Costa vai mover as pedras do xadrez, ciente de que o Conselho de Estado tático convocado pelo presidente da República para julho bate exatamente com o final desse pesadelo chamado Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP e com o pagamento das pensões com retroativos a janeiro. E depois entra o verão, a praia, as férias. Portugal mergulha na habitual letargia do sol.
O país real até pode franzir o sobrolho perante a novela dos espiões de vão de escada, mas no fim do dia não é isso que faz a diferença. Costa sabe-o. Marcelo também. Se a inflação e os juros abrandarem, e se o Estado começar a despejar dinheiro na economia, reforçando uma lógica assistencialista que, para já, só tem chegado aos mais pobres, será esse o combustível que fará andar a máquina do poder e garantir a estabilidade para enfrentar a legislatura. Os portugueses não comem crises políticas. E um Governo de barriga cheia vai dar-lhes exatamente o que eles precisam.
Diretor-adjunto