As ondas de choque da crise política precipitada pela reprovação do Orçamento do Estado não se esgotam na expiação das culpas.
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Ao PS cabia a maior responsabilidade em fazer aprovar o documento, mas BE e PCP deveriam estar obrigados a valorizar mais o senso e menos a ideologia. Podendo ser justas as reclamações dos parceiros agora desavindos, o que fica disto tudo é a imagem de três partidos que, durante seis anos, foram capazes de se entender, num contexto de muito menor exigência conjuntural, mas foram incapazes de o fazer no momento em que o país mais deles necessitava. O país que vota neles e o outro.
As ondas de choque desta trapalhada institucional absolutamente desnecessária e lamentável vão naturalmente estender-se ao próximo quadro legislativo. A não ser que, num nada previsível desfecho, o PS arrebate a maioria absoluta com que António Costa sonha, aquilo que nos espera é um cenário de completa desagregação partidária. O PS não quer aliar-se com o PSD e ficou com o caminho tapado pelos novos muros que se ergueram à Esquerda; o PSD quer aliar-se ao CDS, mas ainda não sabe com que liderança (nem do PSD nem do CDS), está a fazer-se de morto para os fenómenos Chega e Iniciativa Liberal, mas também não aceita acordos de Bloco Central com o PS; já o PCP e o BE, depois desta rutura, teriam de engolir sapos do tamanho das sedes partidárias para voltar a estender a mão aos socialistas. Sobra o PAN, que pode ajudar a resolver tudo, caso conquistem mais um ou dois deputados e se encostem a António Costa, como tem sido cada vez mais notório.
Em suma, ninguém quer entender-se com ninguém, embora a realidade demonstre que esse caminho é obrigatório. Não é uma questão de "se", é mesmo uma questão de "quando". Habituem-se, por isso, a governar em minoria. Mas façam-no levando os partidos todos para o Governo. Dando-lhes poder e responsabilidades. E não permitindo que cumpram a dupla condição do polícia bom e do polícia mau, como aconteceu com BE e PCP. Se não for assim, vamos andar a brincar aos orçamentos chumbados todos os anos.
Diretor-adjunto