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Vivem-se momentos de pânico entre os portugueses residentes nos Estados Unidos, devido à ameaça de deportação em massa do presidente Donald Trump. Esta ameaça tem sido concretizada de forma cruel com a deportação de latino-americanos como se fossem criminosos, em aviões militares e algemados, como aconteceu com cidadãos brasileiros.
Há associações de apoio a imigrantes que afirmam que existem alguns milhares de portugueses indocumentados, sendo que agora estão na mira não apenas os que cometeram algum tipo de delito, mas todos os estrangeiros que não estejam devidamente regularizados, mesmo crianças e famílias em que um dos cônjuges está legal e o outro não e independentemente dos filhos terem nacionalidade dos Estados Unidos.
Por isso o medo existe, potenciado pelo facto do ICE - Immigration Customs Enforcement ter autorização para entrar em todos os sítios, incluindo escolas e igrejas e por haver um clima de demonstração de força e de humilhação dos migrantes, que passa pela possível detenção em Guantánamo até serem deportados.
Num documento do ICE atualizado até novembro de 2024, há 360 portugueses identificados para deportação e num outro, do Senado, é feita referência a mais de quatro mil portugueses que ultrapassaram os 90 dias de estadia legal no país, mas impossibilitados, por isso mesmo, de se legalizarem, mesmo estando no mercado de trabalho.
Neste ambiente de perseguição, é assim natural que os imigrantes portugueses tenham medo de sair à rua, havendo muitos que estão a regressar a Portugal, desfazendo-se apressadamente do que construíram, para não terem de passar pela humilhação de serem presos.
E é, por isso mesmo, que o Governo deveria dar orientações aos postos consulares para apoiarem os nossos concidadãos nas decisões a tomar relativamente à família e aos bens que têm nos Estados Unidos na eventualidade de quererem regressar a Portugal ou sobre os instrumentos legais que têm ao seu dispor para se defenderem, o que ainda não aconteceu. Em vez disso, o Governo diz apenas que está a acompanhar a situação e que estão prontos para receber os deportados, o que é uma atitude displicente e muito pouco tranquilizadora para tanta ansiedade.