Gozar com quem trabalha
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Para alguns, o "mercado", ao "acrescentar valor" a prédios antigos, promoveu a reabilitação e "salvou" cidades. Claro que, à mesma velocidade a que reabilitava (ou transfigurava) prédios, fazia sair pobres e remediados, fechava tascas e lojas e promovia a multiplicação de T1 e T0, hotéis, AL, restaurantes, lojas de bugigangas e estabelecimentos trendy. Podia ter sido como noutros lados, ou como no Porto dos tempos do CRUARB, em que se reabilitou mantendo o que estava e quem estava. Mas, não!
Ao "acrescentar valor" e ocupar prédios com usos turísticos, os preços aumentaram. Agora, querem que acreditemos que o problema da habitação não é do seu preço, mas da falta de oferta, mesmo que abundem casas vazias, aos milhares. Dizem que é preciso construir mais para a classe média. Deve ser porque os da alta não precisam e os que vivem em barracas, na rua ou em más condições não dão lucro.
Se esta posição, quando vinda da finança e do imobiliário, se entende, custa a aceitar quando vem de quem governa (ainda que a ligação do PM e do líder parlamentar do PSD ao imobiliário lhes possa dar uma sensibilidade especial). Mesmo assim, usar os nossos impostos para apoiar a compra de casas com valores de até 648 000 euros e de rendas de até 2300 euros/mês, chamando a estes valores de moderados, é "gozar com quem trabalha"! Como se não bastasse, vem aí desordenamento do território à grande, pois foi aprovada a construção em terreno rústico de habitação... a custos moderados!