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Que é como quem diz "uma loucura" grega e europeia, à esquerda e à direita, do povo e das elites. Quem quiser ser honesto e fazer um comentário claro ao que se ouve, ao que se vê e ao que se lê, então não pode passar disto: o que está a acontecer na Grécia é a mais refinada e mediática loucura.
Ninguém se entende sobre o fio da meada. Ainda não acabamos de fazer as contas aos investimentos públicos e ruinosos que alegadamente sobre-endividaram o país, e já nos explicam que os maus da fita afinal foram os bancos que sempre souberam que o país não ia pagar e, mesmo assim, viabilizaram os empréstimos.
Ninguém se entende sobre a qualidade dos governantes e respetiva capacidade estratégica e operacional. Tão depressa Varoufakis é um dotado economista e um sofisticado jogador na mesa das negociações, como aparece reles batoteiro, ganhador de tempo.
Nem a imagem do novo partido é pacífica. Ora se simpatiza com as maneiras mais joviais dos seus representantes, ora se cai com violência sobre a moto que nos parece um Jaguar ou sobre o sentar-se no chão provocador e "nonchalant".
Também ninguém chega a acordo sobre as reais forças diretoras do processo. Conspiração germânica para os expulsar do euro ou mesmo da União, ou um heroico encostar à parede grego, feito de bluff, irritantemente duradouro e perigoso?
Nem sequer o povo grego escapa a esta louca procissão de suposições, interpretações e intenções.
Ora nos entram pela porta dentro em esmagadoras imagens de pobreza, fragilidade e revolta, ora nos saem das estatísticas corruptos, preguiçosos e indisciplinados.
Diga-se que esta será, apesar de tudo, a menor das incertezas. Afinal, que espécie de consolo me traz o facto de saber que estes crimes estatísticos são reais? As filas de gregos à porta dos bancos para tentarem levantar as suas pensões são penosamente reais e solidariamente angustiantes.
Portanto, talvez esta crise seja sobretudo uma crise de comunicação mediática em que o atropelo e a falta de valor acrescentado na cobertura jornalística da revolução em curso nos impede de formular um raciocínio isento e, mais grave, de nos mobilizarmos. E é assim, muito mais do que com o excesso de dívida, que se liquida o projeto europeu.
ANALISTA FINANCEIRA