Grécia, uma oportunidade perdida
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Até há algum tempo, muitos acreditavam no sucesso da estratégia de Yanis Varoufakis para a resolução da crise grega. O racional assentava em três axiomas: o insucesso da austeridade imposta pela troika, a legitimidade do Syriza expressa nas urnas e, por fim, o crédito remanescente das reparações da II Guerra Mundial (esta, como forma de pressionar a Alemanha). O ministro das Finanças helénico estaria consciente da hostilidade do Eurogrupo e do trio FMI-BCE-CE face ao seu posicionamento, mas acreditou sempre que estes não deixariam cair a Grécia, sobretudo por temerem os danos na solidez da moeda única. Era uma estratégia do tipo "caminhar de derrota em derrota até à vitória final".
A verdade é que, passados alguns meses, o sonho grego transformou-se em tragédia. As declarações à margem da reunião da semana passada do G7 mostram bem que, ao contrário do que se diz para os lados de Atenas, não há sinais de uma solução. Mais, Christine Lagarde referiu-se expressamente à possibilidade da Grécia sair do euro, juntando-se nesta perspetiva ao ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble. A pressão inverteu-se, ao ponto do Syriza ter dado luz verde a Alex Tsipras para um acordo que não seja humilhante.
De uma forma ou de outra, a Grécia vai capitular. Se conseguir negociar o fecho do segundo resgate, receberá os 7 mil milhões de euros da última tranche, mas terá de ceder às exigências dos credores, algo que pode custar a cabeça de Tsipras. Se assim não for, não poderá satisfazer as responsabilidades de junho, que entre pagamentos de empréstimos, salários e pensões ascenderão a 4 mil milhões. No caso de falhar pagamentos aos credores internacionais, a Grécia entra em default e fica a um passo da saída do Euro. Tudo dependerá da reação do BCE, que em condições normais deverá cortar o financiamento aos bancos gregos.
A avaliação dos primeiros 100 dias do Governo Syriza é esmagadora: fuga de depósitos estimada em não menos de 30 mil milhões de euros, contração de 10 mil milhões de empréstimos de curto prazo, aumento das dívidas do Estado a privados de 3 mil milhões, 600 postos de trabalho a desaparecerem por dia. O sonho Syriza parece não ter passado disso mesmo. Todavia, num quadro de tanta dificuldade, havia uma oportunidade. Refiro-me a um dos axiomas de partida, o insucesso da austeridade imposta pela troika. Esse era o debate, essa era a aberta que a dupla Tsipras & Varoufakis deveria ter agarrado, com honra mas sem arrogância, para a qual estaria disponível a boa vontade de alguns estados. Recuar primeiro, para avançar no futuro.