Há uma contradição pedagógica na greve climática que se assinala hoje. As escolas vão marcar falta aos alunos que participarem, cumprindo a lei, mas ao mesmo tempo apelam aos encarregados de educação que justifiquem as ausências. É uma lição complicada de ensinar aos mais novos: podem faltar às aulas? Não. Devem faltar às aulas e ser punidos por uma boa causa? Sim. Não se preocupem, é tudo justificado.
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Que não há greves indolores, já toda a gente sabe. Mas, e após o apelo da Amnistia Internacional dirigido às escolas portuguesas para que seja dada autorização aos estudantes a participar na iniciativa, este protesto climático merecia uma abordagem que agrupasse toda a comunidade educativa, sem estes jogos a roçar a hipocrisia. Assim, não é uma boa lição.
Até porque o Mundo precisa mesmo de mais jovens como Greta Thunberg. Podem chamar-lhe "guru do apocalipse", "profeta de calções" ou o "Justin Bieber da ecologia". Pode ter "haters" nas redes sociais e ser acusada de radicalismo ambientalista. A jovem sueca pode ser e ter isso tudo. Mas não importa. Foi ela que impulsionou esta greve climática e não os players do costume. Foi ela que olhou nos olhos de vários líderes mundiais e lhes disse, na cara, que não estão a fazer o que deviam para salvar a Terra. Quantos o fizeram?
Enquanto tivermos um presidente de um país que afirma ser uma "falácia" classificar a Amazónia como pulmão do Mundo e que se ajoelha perante um pastor evangélico mentecapto que prefere que as filhas casem com "machos" em vez de estudarem, então, sim, precisamos mesmo que os jovens se revoltem.
Enquanto tivermos chefes de Estado que gozam com as lágrimas dos jovens que choram pelas políticas erradas dos adultos, então, sim, vale a pena que os professores escrevam nos sumários que o Mundo precisa de mais Gretas.
Diretor-adjunto