Veremos o que se passa amanhã com a manifestação "inspirada" nos "coletes amarelos" franceses.
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Talvez os portugueses não tenham tempo de ir para a rua porque ainda não fizeram as compras de Natal mas, a verdade, é que politicamente o Governo começa a pisar sobre ovos. Um passo em falso e estala tudo.
No fundo bastava que todos os setores que estão em greve saíssem à rua juntando aqueles que começam a ficar indignados com tanta falha na segurança dos serviços do Estado.
A turbulência é latente e António Costa tem provado ser muito competente a desarmadilhar situações explosivas. Mas o ano de 2019 é longo e as eleições são só no fim.
A desaceleração económica está aí, o que, pelo menos, retirará o efeito dos anúncios objetivos de bons indicadores e a folga do défice não dá para resolver todas as reivindicações.
Por outro lado, as categorias profissionais descontentes decidiram entrar por caminhos novos com greves parcelares, intercalares e outras coisas que tal para não falar do caso extraordinário dos enfermeiros que lançaram uma operação de crowdfunding para se poderem manter em casa sem perderem dinheiro. O direito à greve, por este andar, tem de ser reenquadrado do ponto de vista legal senão é um forrobodó. Até o PCP já se incomoda.
Mas a verdade é que estes métodos criativos fazem durar os protestos no tempo e arrastam o desgaste proporcional a quem governa.
A Oposição também não capitaliza grande coisa com o assunto. Até porque se fartou de recriminar o Governo por propor um orçamento alegadamente liberal nos gastos.
O problema está no impacto económico e social que tudo isto terá.
Aparte a greve dos estivadores que como provoca um murro na mesa dos alemães acaba por se resolver, as outras dos enfermeiros, dos funcionários judiciais, dos professores, dos bombeiros, dos guardas prisionais ou dos trabalhadores ferroviários, trazem custos diferidos no tempo, mas que, certamente, todos acabaremos por pagar.
Pode ser que mesmo assim tudo se controle e o PS se faça eleger em outubro de 2019. Mas, por essa altura, as boas notícias vão amarelar, como a greve.
*Analista financeira