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À primeira vista, não se descortinam motivos óbvios para que as centrais sindicais decretem uma greve geral a 11 de dezembro. O "pacote laboral", contra o qual invetivam, só será entregue aos deputados no fim do mês e seria sensato aguardar pelo desfecho das negociações entre parceiros sociais, antes de se avançar para medidas mais radicais. Em Portugal, no entanto, raramente o bom senso anda a par destas matérias.
A precipitação dos sindicatos tem óbvias motivações políticas. Basta recordar que foram estas mesmas organizações que, ao longo de oito anos de governos liderados por António Costa - e com conflitos evidentes em relação a diversas classes profissionais - não se sentiram impelidas, uma única vez, a ir com "a luta" até ao fim. Já no período de intervenção externa, com o país mergulhado numa crise profunda - foram quatro as greves gerais convocadas. Duas delas, juntando UGT e CGTP.
Este duplo critério demonstra o viés ideológico destas entidades e justifica, em grande medida, o declínio que o movimento sindical português conheceu nas últimas décadas, com cerca de menos 50% de taxa de participação do que se registava no pós-25 de Abril. Os trabalhadores concluem que as centrais sindicais estão mais preocupadas em proteger agendas político-partidárias, do que em representar os seus interesses. Além disso, não parecem fazer um esforço sério de negociação, estando quase sempre de fora dos acordos de concertação ou renitentes em assiná-los.
Não é por acaso que têm crescido movimentos de representação laboral no nosso país, afastados deste modelo dogmático e inconsequente. O chamado sindicalismo "inorgânico" emerge como alternativa, por dispensar a colagem a partidos e alcançar resultados práticos mais satisfatórios para as classes profissionais, como foi o caso dos professores, que viram as suas reivindicações atendidas.
Perante mais uma greve geral seletiva, o Governo deve manter as propostas e negociá-las com seriedade junto dos parceiros que estiverem disponíveis para negociar. A bem de uma modernização legislativa, que responda aos novos desafios do mercado de trabalho e à melhoria da produtividade e da competitividade da nossa economia. Tudo o resto será ruído e sectarismo, disfarçados de luta sindical. O país pode parar um dia, mas vai acordar mais forte no seguinte.
