Nestes dias de pandemia surgem histórias enternecedoras.
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O confinavírus trancou-nos, mas estar entre quatro paredes libertou-nos a alma. Egoístas viram altruístas, adormecidos acordam para a vida, tipos que não pregavam um prego são doutorados em bricolage. Tudo quase por magia, num estalar de dedos que reprogramou cérebros, colorindo-lhes a massa cinzenta em tons de borboleta que parecem levar à barriga sensações fofinhas que a todos deixam a flutuar. A minha casa, graças a Deus, continua fechada à Covid-19, mas não está imune ao vírus deste admirável mundo novo cor-de-rosa. Descobri que o meu filho mais novo, por exemplo, resolveu passar o tempo a jogar em rede na Playstation com pessoas que têm insuficiência auditiva. O gesto comoveu-me. Podia divertir-se com os amigos do costume, todos saudáveis, mas não. Resolveu entregar-se a esta nobre missão de ajudar os que mais precisam. Comovente! E aborrecido. Ouvi-lo tão bem, estando ele na ponta oposta da casa e num piso diferente, deixa-me os nervos em franja [novidade: não cortar o cabelo há um mês já me permite ter franjinha], mas estou por tudo. Sim, Nuno, podes continuar a gritar à vontade. Quando estiveres a ganhar também.
Jornalista