O PSD escolheu o caminho da solidão do seu presidente para se apresentar em Janeiro ao país. Fez-se entretanto - e continuará a fazer-se porque há ainda um congresso - uma chinfrineira por causa das listas de deputados.
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Não houve sombra de novidade no exercício. Rui Rio funciona por exclusão de partes, não por inclusão. Ele não queria nada do que se lhe opunha. Logo, também não quer nada com os que se lhe opõem. Já fez, aliás, saber que se está nas tintas para "complicações" no congresso. Na verdade, Rio conseguiu ir além de si próprio. E da tradição do PSD, mesmo nos seus momentos mais frágeis no início dos anos 80. Não me refiro à mercearia dos lugares. No nosso sistema representativo, os deputados só respondem realmente perante os chefes partidários. Não havendo dois círculos, um nacional e outro uninominal, o método de Hondt permite extravagâncias como os "deputados não inscritos" que entram pela porta de um partido e saem pela janela para se representarem a si mesmos. Os que ficam já sabem. Sentam-se e levantam-se quando lhes mandarem. Qualquer atrevimento "independentista" não autorizado, ou não coberto pela "liberdade de voto" previamente autorizada, é punido. O que interessava apurar, afinal, era se o PSD estava ou não interessado em responder ao desafio eleitoral de Janeiro à frente de uma federação democrática reformadora. Nenhum dos dois então candidatos, Rio e Rangel, era claro nisto. Esperava-se, até por Rio ser o mais aberto a tal, que o PSD liderasse uma coligação em Janeiro. Em poucos dias, porém, Rio, pelo silêncio diante dos seus procônsules, não só pôs de parte uma coligação como fez o que até aqui nenhum outro presidente do PSD tinha feito. Dispôs-se, perdendo, a viabilizar governos socialistas através dos homens e das mulheres, pelos vistos de palha, que vai eleger. Marcelo viabilizou orçamentos de Guterres, e Passos Coelho um de Sócrates, por contingências externas. Um, por causa da adesão à moeda única. O outro, porque estava em marcha uma crise internacional que os socialistas trataram imprudentemente a seguir, conduzindo isto à bancarrota. Agora, não existe nada que justifique que o candidato a primeiro-ministro da oposição aos socialistas seja, simultaneamente, candidato a ficar na oposição para ajudar os socialistas. Rio é mais um irmão Marx. "Corro com os meus princípios para ganhar, mas se não ganhar arranjo outros princípios para ficar". As pessoas costumam preferir originais a cópias desbotadas. Fica feito o aviso.
*Jurista
O autor escreve segundo a antiga ortografia