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O dispositivo é inédito e pode inaugurar uma nova fase na gestão da imigração na Europa: na sequência de um acordo com Itália, a Albânia criou dois centros para receber imigrantes transferidos do território italiano ou intercetados pelas respetivas autoridades no Mediterrâneo. Conselho da Europa e Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados estão muito preocupados com esta iniciativa.
Um dos centros está instalado no recinto do porto da cidade costeira de Shëngjin, num terreno de quatro mil metros quadrados com uma cerca de cinco metros de altura. A revista francesa “Nouvel OBS”, que esta semana publica uma extensa reportagem sobre este assunto, diz que esta construção em tudo se assemelha a uma prisão, sendo que para a visitar “é preciso carta branca de Itália”. O segundo centro situa-se já no interior da Albânia, a uns 20 quilómetros dali, na vila de Gjäder. A população local, cada vez mais reduzida devido a um êxodo que partiu à procura de vidas menos miseráveis, diz que os imigrantes são bem-vindos. Com eles, não terão grande contacto, mas toda a logística que implica um centro de dimensões consideráveis trouxe outra dinâmica a um lugar sem qualquer perspetiva de futuro.
Mas nem tudo corre como a primeira-ministra italiana tinha pensado, depois de fazer este acordo por cinco anos com um custo de 670 milhões de euros. Tendo recebido este mês 16 imigrantes detidos em Itália, estes centros de acolhimento viram todas essas pessoas fazer a viagem de regresso: quatro por estarem em grande vulnerabilidade física e 12 por decisão de um tribunal transalpino que invalidou essas retenções.
Não se pense, porém, que esta iniciativa resulta de uma ideia isolada e sem seguidores de Giorgia Meloni. Neste tempo, de acordo, com a revista “Nouvel OBS”, a primeira-ministra italiana recebeu vários apoios. No Reino Unido, o primeiro-ministro Keir Starmer, a braços com os pedidos de asilo de imigrantes do Rwanda, já a felicitou; em França, o ministro do Interior mostrou-se seduzido por estes “hubs de regresso”; e na Comissão Europeia, Ursula von der Leyen aplaudiu aquilo que considerou ser uma “reflexão original, fundada na partilha de responsabilidades com países terceiros”. Na verdade, a Europa está em várias geografias muito pressionada por direitas radicais que conduzem os respetivos governos a endurecerem políticas contra a imigração.
Em contrapartida, dentro de portas, Georgia Meloni confronta-se com vozes que contestam estas opções. Riccardo Magi, líder do partido + Europa, já considerou estes centros como “o Guantánamo italiano”. Cuja existência se conhece, ignorando-se tudo que se passa no seu interior.