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A guerra tem o mérito de muitas vezes fortalecer líderes enfraquecidos. A queda nas sondagens de Bibi, como é conhecido o primeiro-ministro israelita, era já um facto, mas é muito provável que o ataque do Hamas no sábado, 7 de outubro, sirva de elixir para a sua popularidade. Não seria a primeira vez que isso sucederia com Benjamin Netanyahu. Na realidade, os líderes, mesmo que diminuídos perante os eleitores, renascem quando é necessária a união nacional contra um inimigo comum. Foi isso que sucedeu no passado com George W. Bush, ex-presidente dos EUA, na sequência da resposta militar norte-americana aos ataques terroristas do 11 de setembro de 2001.
Um compatriota a viver há muitos anos em Inglaterra contou-me em 2022, alguns meses após a invasão russa da Ucrânia, uma piada muito popular sobre lideranças. No número 10 de Downing Street morava então um primeiro-ministro que tinha virado “palhaço” (Boris Johnson), enquanto em Kiev tinha surgido um comediante que estava a demonstrar ser um político de enorme resiliência e craveira (Volodymyr Zelensky).
No livro “Engenheiros do caos”, Giuliano da Empoli explica que, em meados da década de 1990, Arthur Finkelstein, um norte-americano especializado em marketing político e redes sociais, desembarcou em Israel. Yitzak Rabin acabara de ser assassinado e sucedeu-lhe Shimon Peres, Nobel da Paz. O candidato para quem Finkelstein trabalharia, Bibi, não passava de um extremista inexperiente. Arthur lançou o slogan “Netanyahu é bom para os judeus” e montou uma campanha nas redes sociais demolidora contra Peres. De candidato derrotado à partida, Bibi passou a primeiro-ministro. A proposta de Netanyahu de enfraquecer o Supremo Tribunal, numa altura em que ele próprio está a ser julgado por corrupção, parecia estar a aniquilá-lo politicamente. Nada como uma guerra para renascer.