A guerra na Ucrânia tem posto a nu a fragilidade de líderes políticos ocidentais sem visão estratégica e de futuro. Durante vinte anos, deixaram a cleptocracia apoderar-se da Rússia e até a apoiaram, a troco de miseráveis vantagens nacionais, ou pessoais. Hoje, com a falência das lideranças políticas, pede-se a intervenção das lideranças religiosas para mediar e pôr fim ao conflito. Os apelos foram dirigidos ao Papa Francisco e a Cirilo, o patriarca de Moscovo da Igreja Ortodoxa.
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O Papa tem feito tudo para que o conflito cesse. Quando se iniciou a invasão da Ucrânia, num gesto inédito para um Pontífice, dirigiu-se à embaixada da Rússia para manifestar a sua "preocupação". Provavelmente, não foi fazer só isso... Em plena Praça de S. Pedro, no Vaticano, teve depois a ousadia de desmontar a narrativa russa: "Isto não é apenas uma operação militar, mas uma guerra que semeia morte, destruição e miséria". Enviou dois cardeais à Ucrânia para manifestar a sua proximidade àquele povo mártir e promover a paz.
O patriarca Cirilo optou por se colocar ao lado de Putin e até propôs argumentos teológicos para declarar esta guerra moralmente justa e útil! Cirilo não condenou a invasão que tem levado à morte muitos dos seus fiéis na Ucrânia. E, ao décimo dia da guerra, a 7 de março, disse que se trata de uma "guerra justa" para travar a degradação moral que vem do Ocidente.
Verdadeiramente, aquilo que o preocupa não é a proteção dos seus fiéis da "depravação ocidental". Vê nesta invasão uma possibilidade para esmagar a Igreja Ortodoxa Ucraniana, que se afastou de Moscovo, nos inícios da ocupação soviética. Com a independência da Ucrânia, em 1993, foi fazendo o seu caminho até se tornar autocéfala, em 2019, com o apoio do Patriarcado de Constantinopla, na Turquia.
Tal como os líderes ocidentais no passado, o patriarca Cirilo deixa-se guiar por objetivos mesquinhos e de curto prazo. Sacrifica até os seus fiéis, maioritários na Ucrânia. Já o Papa coloca acima de tudo a defesa da paz. E, embora os católicos sejam uma minoria na Ucrânia, faz o que pode para minorar os sofrimentos causados a todo este povo.
Padre