<p>Onde cortar? Como cortar? Todos os partidos parlamentares dizem que se deve talhar no "desperdício". O diabo está nos detalhes, e na explicação. Na verdade, o que há a mais no sector público da actividade, cujo funcionamento representa 22% do actual orçamento, sendo certo que, nessa fatia, 75% do custo reporta-se a despesas de pessoal? Os consultores das autarquias? A participação do Estado em empresas de alimentação? Os ordenados dos megagestores públicos? A sangria de recursos para sanear bancos nacionalizados e empresas cronicamente em crise? O submarino que, na folclórica expressão de Teixeira dos Santos, "já anda por aí"? </p>
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Apesar de grandes tiradas, não há um acordo suprapartidário sobre que parte do Estado é inútil, e que parte é útil. Não existe um documento com força de lei, que estabeleça metas de supressão, eventualmente separando águas quanto ao tempo e método.
Ninguém quererá, com um imediato desmantelamento do "estado inútil", atirar mais trabalhadores para o desemprego, mais famílias para a falência, mais dependentes para o desespero, com toda a espiral de consequências previsível, da baixa de consumo à insolvência financeira e fiscal.
Mas também ninguém, espera-se, quererá ser o último a começar uma política de verdade, onde se explique que a ocupação num sector inútil é uma perigosa ilusão de estatuto, futuro e carreira.
O desfazer do "Estado anti-social" terá de ser assim acompanhado de sábias medidas de reintegração, reciclagem, reaprendizagem, e de negociação de apoios sociais mínimos, onde se justifiquem.
Depois, temos a necessidade, sempre afirmada, de aumentar a receita. A subida a pique dos impostos é a solução mais fácil, mas também a mais grave. O combate à evasão fiscal é um caminho, mas não produzirá muito mais frutos, e não terá impacte imediato. Depois, temos a possibilidade de uma revolução na estrutura financeira, com um agravamento de taxas sobre grandes fortunas e conglomerados, ao menos de forma temporária, e com garantias futuras de compensação, para que não se fira o investimento.
O que se precisa é de um plano. Claro, onde se perceba que é a opção política que guia a economia.
E temos de saber se preferimos, sobre o Orçamento, uma guerra ou um pacto. Com o cobrador de fraque à espreita.