Talvez devesse, por politicamente correcto, calar o meu repúdio pela actuação violenta do Homem contra o Homem, mas não consigo.
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Refugiados vindos de longe para fugir à guerra e à fome, crianças que morrem de frio, de sede, de miséria. Gente anónima, sem casa, sem esteio, sem amor, apenas em pé porque acreditam num qualquer país da abundância, atrevem-se no mar e na terra para fugir a guerras que não quiseram e morrem aos milhares. Crianças boiando mortas nas águas que deveriam ser de esperança. Guerras fratricidas ordenadas por quem nelas não combate a quem nelas morre e não queriam ali estar. Crianças despedaçadas por bombas, idosos chorando os seus entes queridos desaparecidos, caem ao som dos tiros, dos mísseis e das explosões sem saberem porquê e para quê. Tiranos que se consideram donos da Mãe Terra, que os acolheu só de passagem, usurpam-na e revertem o bem da vida num inferno de miséria e morte. A Natureza, a Terra já cá estavam quando chegámos. Os Homens vieram milhares de milhões de anos depois envoltos em trevas e desconhecimento. Reinventaram-se e evoluíram, espalhando-se por todo o Mundo, mas idos do mesmo espaço, África. Não posso calar a minha revolta e angústia. A Terra que nos dá a cor, o canto, a música, o belo, não merece que o ser humano desperdice a vida que ela lhe deu, sendo carrasco de si mesmo.
Pelas crianças que trazem dentro de si a esperança de um Mundo melhor, sejamos capazes de condenar sem tibiezas qualquer tipo de políticas ou interesses geoestratégicos, de poder ou de fortuna que são transitórios, morrem com o ser humano que tanto escravizou e explorou por causas tão vis e efémeras. A Terra fica, temos de a cultivar e preservar para a transmitir aos nossos vindouros como testemunho e realização da nossa curta passagem nesta eternidade, que é o infinito.
Hoje voltei a ser questionada sobre o comunicado da PJ relativo ao acto potencialmente terrorista. Reafirmei a minha opinião, agora ainda mais suportada pelas notícias que têm vindo a lume. O anúncio por autoridade policial de um acto de terrorismo abortado é inconsequente, incongruente e alarmista. Informar, como foi feito, que o alerta veio do FBI e que foi conseguido desactivar um ataque terrorista a alunos da Faculdade de Ciências parece significar a existência de uma célula, ou mesmo só de um indivíduo altamente armado e com ligações internacionais. O alarme e o terror das pessoas é uma consequência directa e imediata. Isto é o que pretende o terrorismo, infundir nas pessoas a ansiedade, a angústia, o medo. Por isso nenhuma autoridade judiciária ou policial de qualquer país comunica actos valorosos e corajosos daqueles que, ao serviço da liberdade e da democracia, fazem abortar actos terroristas. Por cada acção terrorista que ocorre, milhares de outras são evitadas e caladas. Importa evitar a mimetização e a difusão da informação valiosa obtida através da colaboração imprescindível entre as agências antiterroristas.
*Ex-diretora do DCIAP
A autora escreve segundo a antiga ortografia