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Sabemos ao que vem quando a sua primeira palavra é para os mais pobres, os desempregados, os doentes, os idosos, os detidos e quantos perderam os horizontes da esperança. E sabemos que é por bem quando a todos esses ele estende a mão fraterna. Manuel da Silva Rodrigues Linda, que hoje entrevistamos, é o novo bispo do Porto, o décimo no último século, na que é a diocese mais populosa da Igreja Católica em Portugal, com cerca de dois milhões de pessoas, em 477 paróquias.
Aos 62 anos, que completa a 15 de abril, Manuel Linda já passou por sete papas, de diferentes carismas. Mas é nas pegadas de Francisco que quer caminhar, "sair da sacristia", não ter medo de "meter os pés na lama e ir ao encontro das pessoas". Misericórdia, aliás, não é outra coisa.
É esse, porventura, o maior testemunho que D. Manuel revê no jesuíta Jorge Bergoglio, o Papa Francisco, argentino de origem, o primeiro pontífice nascido fora da Europa. Ele, que acaba de completar cinco anos na cadeira de Pedro, mas insistindo em descer à rua e mostrar ao Mundo que é de gente real, de carne e osso, mulheres e homens, que são feitos os filhos do deus dos cristãos, e que só pode ser essa a razão de ser da sua igreja.
Ao contrário dos seus antecessores, Francisco não tem medo do corpo. É um Papa que beija e abraça. E que gosta de o fazer. Para ele, o cristianismo é proximidade, o que faz a diferença entre o burocrata e o pastor: um conta o número de ovelhas, o outro procura cuidar delas. Sem desprezar a doutrina, Francisco é um Papa inclusivo, despojado e simples. Lembra, amiúde, que Jesus não afastava nem as prostitutas nem os leprosos, físicos ou simbólicos. Era duro, isso sim, com a hipocrisia. Daí o apelo aos sacerdotes, para que acolham os divorciados, os homossexuais, as mulheres que abortaram. Para ele, são as pessoas que interessam, com as suas dores e pecados, mais que a filosofia ou a teologia, e mais ainda que a frieza do direito canónico.
Durante séculos, a Igreja esteve mais interessada em aquecer os pés nas alcovas do poder do que dar a mão aos frágeis deste Mundo. E é aí que Francisco mais quebra tabus que pareciam petrificados por detrás das paredes por vezes conspirativas da cúria romana, sufocada pela intriga e pela clausura do Vaticano. Antes dele, nenhum Papa se atrevera a dizer que quando alguém se cruza com outro no caminho, não pergunta se acredita em Deus. É deste Papa, que fala simples e nos propõe o retorno ao essencial, o encontro com os outros, que o novo bispo do Porto acaba de receber a bênção. D. Manuel chamou-lhe "guia de marcha", a que enuncia a missão, ou não tivesse sido ele capelão-mor das Forças Armadas.
* DIRETOR