O presidente da Câmara de Gaia e candidato a presidente da Câmara do Porto pelo PSD deu um ralhete público ao ex-candidato à Câmara de Gaia que, apesar de escolhido pelo atual presidente da Câmara de Gaia e da Concelhia de Gaia, foi rejeitado pela Concelhia de Gaia, num daqueles gestos colegiais que fortificam os partidos.
Corpo do artigo
Disse Luís Filipe Menezes a José Guilherme Aguiar: "O aventureirismo, normalmente, dá sempre muito mau resultado e não corresponde, certamente, àquilo que são os anseios políticos eleitorais de quem envereda por esse tipo de caminho".
José Guilherme Aguiar, o candidato rejeitado pela Concelhia que, após a rejeição, rejeitou ser candidato à Assembleia Municipal de Gaia, encheu o peito de ar e respondeu a Menezes: aventureiro é o outro, o saltitão (Aguiar não usou esta expressão, mas era isto que queria dizer) que vive no Porto, trabalha em Braga, é deputado do PSD por Viana do Castelo e foi agora escolhido por Menezes para fazer uma perninha em Gaia.
O outro (com o devido respeito) é Carlos Abreu Amorim, professor universitário que adotou como máxima de vida uma frase que leu na porta do Museu do Holocausto, em Washington (EUA): "Não serás um criminoso; não serás uma vítima; acima de tudo, nunca serás um espectador passivo". A frase é bonita e serve na perfeição para justificar os saltos de aqui para acolá e de acolá para aqui.
O mais interessante deste animado debate é (tentar) perceber por que razão está Menezes a dar palco a Guilherme Aguiar. A frase arrevesada sobre as consequências do aventureirismo na política é conselho de amigo ou uma ameaça de inimigo? Se é conselho de amigo devia ser proferida em privado. Se é ameaça de inimigo é claro sinal de preocupação com os efeitos de uma eventual candidatura independente de Guilherme Aguiar a Gaia. E se Menezes está preocupado com as consequências eleitorais de uma tal possibilidade é porque o candidato que escolheu não lhe dá plena garantia de vitória.
Em boa verdade, Carlos Abreu Amorim não é, como o próprio diz, o "candidato da convergência". É, isso sim, o candidato que resulta da divergência acentuada que se seguiu à decisão de Marco António Costa não se candidatar a Gaia. Temível tribuno, homem culto, mediático e trabalhador, Abreu Amorim tem três problemas, que se interligam, a pesar-lhe nas costas. Por ser muito pouco conhecido em Gaia, é um candidato muito exposto ao voto de protesto contra o Governo que, sobretudo nas freguesias mais urbanas da cidade, cairá com força nas urnas. Menezes pode acompanhá-lo no circuito da carne assada, apresentando-o ao eleitorado gaiense, para minimizar os fracos níveis de notoriedade do deputado. Mas, ao fazê-lo, estará a fazer prova da fragilidade de Abreu Amorim, por um lado, e, por outro, a potenciar uma comparação que pode ser letal: é Abreu Amorim o homem certo para dar seguimento ao legado de Menezes?
Numa equação como esta, a introdução de um fator de perturbação pode ser decisiva. É por isso que Menezes se dá ao trabalho de apontar o "caminho" a Guilherme Aguiar.