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Em Nova Iorque, Guterres reuniu a maioria dos países do Mundo para discutir a importância da paz no Médio Oriente, mas também a obrigação de não abdicarem do combate pelo que está certo, de lutarem pela solução dos dois estados que parece hoje uma infantil utopia. O secretário-geral continua a fazer o seu caminho de D. Quixote, o que nos deve orgulhar enquanto portugueses. Muitas vezes sozinho, tantas vezes com Sanchos Panças ao lado e moinhos de vento mais ameaçadores do que qualquer fábula de Cervantes.
Penso em Guterres, nos tantos que o criticaram com adjetivos que o rotulavam de cobarde, indeciso, fala-barato, inócuo, pantanoso. Lembro-me de alguns dos que o definiram, malta que não arriscaria a possibilidade de perder a assinatura da Netflix, quanto mais a própria vida. É possível que não tenhamos a ideia do seu papel, das pressões e ameaças que o agridem assim que acorda. Não sei qual o seu estado de espírito, mas aconteça o que acontecer, Guterres terá sempre a vantagem de uma consciência limpa, sabendo que em troca nunca mais terá a tranquilidade de poder ir comer umas tripas à Nanda, na Rua da Alegria, sem precisar de olhar para trás das costas. Nem que fosse pelo respeito pela sua coragem, pela honra de ser português e de não ter medo, pela força da nossa diplomacia nestes anos de cólera, nem que fosse por tudo isso, o Governo português deveria estar ao seu lado. Fazê-lo antes de chegar o carro-vassoura que se encarregará de castigar os párias que ficaram ao lado de Darth Vader.