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Os agentes políticos, em especial o actual presidente da República, gostam muito de sondagens. Quem o conhece sabe que Marcelo está permanentemente obcecado com a "popularidade" que as ditas lhe apontam. E que "flutua" em função desses números, híbridos infalíveis de meias-verdades e de meias-mentiras, tantas vezes divulgados para "derreter" ou "puxar" por alguém. Por isso, o líder da oposição, Luís Montenegro, fez bem em demarcar-se das obsessões presidenciais e dos seus "crismas". Quantos putativos e não putativos chefes do PSD não tem ele "crismado" ou execrado, quando não ambas as coisas simultaneamente, sem o menor respeito pelo partido a que presidiu? Depois, se repararem, as sondagens (ainda ontem este jornal trazia uma), de uma maneira geral, colocam o deputado André Ventura visto como o "líder da oposição". Não tenho nada contra o deputado, e a sua histriónica visibilidade, mas, consabidamente, não é por muito se madrugar que amanhece mais cedo. A pergunta que deve ser feita é: a quem convém dar tanto palco, para além daquele que o próprio e os seus já ocupam (até a fazer figuras tristes na rede "TikToK"), a Ventura e ao Chega, numa altura em que Montenegro, como lhe compete, afirmou a autonomia e a liderança político-estratégica do maior partido da oposição em relação ao Chega, coisa que o PS de Costa não conseguiu, nem consegue, fazer em relação ao Bloco de Esquerda, mesmo em maioria absoluta? A resposta é este Governo medíocre. Marcelo errou quando dissolveu o Parlamento no final de 2021. A má consciência é tanta que, dia sim, dia não, a propósito de tudo e de nada, e diante seja de quem for, "disserta" sobre uma eventual dissolução como quem discute a ementa do almoço. Enquanto isso, o improviso organizado e "agarotado" em que se tornou rapidamente este terceiro Governo Costa continua por aí a enterrar-se entre contradições, farsas, impreparação e demagogia, esta cirurgicamente guiada pelo ministro das Finanças (para esconder as primeiras, onde também entra), que anda num frenesim de bodos falaciosos aos pobres. Sócrates fez o mesmo em 2009, um Governo que Medina conheceu tão bem, e viu-se o resultado. E um Ventura nas alturas evidentemente convém-lhes, e o PS e os seus instrumentos comunicacionais não lhe negam a bem aventurança. Cavaco Silva disse estar muito preocupado com a situação portuguesa. Dias depois, perguntaram-lhe se já estava menos preocupado. "Há alguma razão para deixar de estar preocupado?", respondeu o antigo primeiro-ministro e presidente da República. Pergunto o mesmo.
o autor escreve segundo a antiga ortografia
*Jurista