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A intenção é boa. Sob o lema "Conselho para a Globalização, portugueses reencontram-se - o papel da diáspora no desenvolvimento de Portugal", o presidente da República estará hoje reunido com 25 gestores portugueses de craveira mundial para em conjunto refletirem sobre fórmulas capazes de ajudar Portugal a sair da situação de sufoco económico-financeiro em que se encontra. À porta fechada, como é normal ocorrer em situações de debate e planeamento de estratégias, António Horta Osório, CEO do Lloyd's Bank, Frederico Curado, CEO da Embraer, António Viana Baptista, CEO para a Península Ibérica do Credit Suisse, e todos os restantes gestores de primeira linha não deixarão de levar Cavaco Silva a beber experiências e tomar notas suscetíveis de usar na desejável influência de Belém sobre o Poder Legislativo ou Executivo.
A boa reputação internacional dos gestores portugueses merece ser ouvida. Dela é possível extrair exemplos concretos de eficácia a que o país não se deve furtar.
O "Conselho para a Globalização" vale, em princípio, como um dos itens essenciais para perceber fórmulas de potenciação de uma das poucas vias através das quais será possível ao país inverter a atual penúria: exportações. E se uma parte do empresariado português tem dado mostras de qualidade no esforço de aquisição de quotas em novos mercados, apesar da conjuntura recessiva, não apenas interna, a agressividade da chamada diplomacia económica é preciosa alavanca para a obtenção de sucesso. Os 25 gestores podem ajudar nessa missão......
... ...mas o caderninho de notas do presidente da República não deixará de ser preenchido também por conselhos para inverter atrofias internas - e não apenas na vertente do consumo.
A internacionalização da economia portuguesa faz-se pela aquisição de fatias de mercado e pela capacidade de investir e produzir na base da qualidade e preços competitivos.
Será estafada a conversa mas, de facto, no caso do presidente da República se fazer munir de anteriores diagnósticos, é muito previsível que as vozes acreditadas com que hoje se reunirá lhe repitam deficiências e constrangimentos estruturais a pedirem urgente implosão: desde logo aumento da produtividade - o que não é igual a baixa de salários - a par de uma redução drástica de custos, da energia às taxas, chamem-se elas TSU ou IRC, passando por combate a pecha de todo gritante: a lentidão do sistema de Justiça. Todo um conjunto de fatores há muito diagnosticados e para os quais sobram os estudos de estudos e os pacotes legislativos - sempre revisionistas, mas de efeitos práticos nulos.
A conquista de mercado externo é, hoje por hoje, essencial. Mas, queira-se ou não, está atrelada à facilidade a conceder às empresas e às garantias a quem queira e possa investir em Portugal.
De todo útil, o "Conselho para a Globalização" pode ser que alavanque um receituário.