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É uma aldeia de Basto, há já uns anos elevada a vila. Cresceu mal do ponto de vista urbanístico, porque perdeu campos e eiras e em seu lugar viu crescer prédios. Não são arranha-céus mas acanham a largura da memória dos lugares.
Mas tem gente. Gente que gosta de lá viver, que tirou partido de uma posição geográfica favorável entre Vila Real, Chaves e Braga e conseguiu manter a sua terra como um entreposto comercial ativo e reconhecido por muitas comunidades circundantes.
Por isso, tem gente. Tem escola, tem crianças, tem gente nova e gente mais velha que se organiza anualmente para celebrar Nossa Senhora dos Remédios. Todos os anos. Há 300 anos.
Enquanto em quase todo o Portugal rural as manhãs são iguais às tardes e os dias aos meses, na minha aldeia há carros, gente às compras, grupos a conversar, cafés frequentados. Não, não é idílico. Mas não está morto!
Mesmo neste agosto de pandemia. Lojas quase centenárias continuam abertas. Outras de que me lembro tão bem fecharam, mas deram lugar a novos pequenos negócios, do apoio à contabilidade ao cabeleireiro atualizado.
Muito pouco aqui é ligado ou tributário do turismo. Não que não pudesse ser. Ainda há zona verdes rurais e ribeirinhas a valer a pena. E lojinhas da moda com produtos típicos ficam sempre bem.
Mas a vida vivida da gente de cá e das vizinhanças justifica uma pequena economia consistente e viável.
Claro que não é garantido. Claro que muita gente emigrou e que muitos dos mais novos saíram e não voltaram. Mas a capacidade de se manter atrativa, não sendo sede de concelho, é sinal de uma comunidade resiliente e criativa.
Faria bem a senhora ministra da Agricultura, ou a da Coesão ou a senhora secretária de Estado da Valorização do Interior, em tornar conhecidos e estudar estes microcasos de sucesso.
Eu, pelo menos, já não me entusiasmo com imagens de uma ministra de boné a fazer de conta que apanha pera-rocha.
*Analista financeira