Passado o choque inicial, o que todos os portugueses gostariam de presenciar, se possível em direto, era a gargalhada de Joe Berardo quando lhe forem retiradas as condecorações atribuídas pelos antigos presidentes da República Ramalho Eanes e Jorge Sampaio.
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Hoje haverá uma espécie de conselho de turma disciplinar para decidir se Berardo continua ou não comendador. O aluno mau, noutros tempos um exemplo a seguir por todos os portugueses, que lhe valeu o grau de comendador, estará em análise no Conselho das Ordens Nacionais. Será castigado? Tudo indica que sim. Mas não chega.
Apesar de ser indiscutível que Joe Berardo fez de dez milhões de portugueses palhaços, a verdade é que poderá perder as comendas não pelas manobras habilidosas que fez para ficar com os milhões de todos nós, e não os pagar, mas pelo que disse e a quem disse.
Se Joe Berardo tivesse sido mais ponderado na comissão de inquérito, tivesse dito o mesmo mas por outras palavras, ou recorresse aos argumentos habituais de quem se senta naquela sala ("não sei, não me lembro, não me recordo"), lá ficaria com as medalhas penduradas ao pescoço. Ria-se na mesma.
Mas haverá outra pena para Joe? O Ministério Público irá analisar as declarações do empresário, mas a avaliar pelos outros Berardos que andam por aí, mais discretos e menos arrogantes, não parece. Distinguir os justos dos desprezíveis, os culpados dos inocentes, os corruptos dos honestos é mais difícil do que um fact-checking.
Foi preciso chegar a este ponto para percebermos que tudo está mais podre do que aparentemente nos poderia parecer.
Retirem-lhe as medalhas, as condecorações, as distinções, não bebam mais o vinho dele. Mas não se esqueçam das outras dezenas de figuras, da política e da Banca, que também guardam galardões nas estantes e se andam a rir, há tempo demais, na nossa cara.
*DIRETOR-ADJUNTO