Afinal de contas, acreditando-se no que por aí se lê, é curto o tempo de vida que se dá ao Governo.
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Quem previa que o país, atendendo à crise por que passamos, precisava de um Governo sólido e com condições para durar, afinal de contas esses é que tinham(os) razão. Quem desde cedo acreditava que, em plena crise económica, o país não poderia atravessar uma crise política foi criticado. Defender a maioria absoluta chegou a parecer sacrilégio, coisa que o novo catecismo democrático punha de lado por conduzir, num ápice, ao poder absoluto. Agora, com desfaçatez, mas também com a lógica dos números, contrapõe-se que mais de 60 por cento do país escolheu a Oposição. E, ainda que a Oposição não pense toda o mesmo, é fácil encontrar, partido a partido, razões fortes para que não seja dada nenhuma possibilidade ao Governo.
Antes das eleições, foi muito ouvida também a tese da responsabilidade, segundo a qual, com um Governo minoritário, a responsabilidade de o manter - e de o derrubar - se reparte por todos por igual. Foi muito ouvida, mas já ninguém fala nisso. Ninguém chega ao ponto de Vasco Graça Moura, que falou alto sobre as suas convicções fazendo tábua rasa do resultado das eleições, mas vão-se encontrando fortes razões para achar natural que cada um se finque nas posições de princípio que tem e daí não saia. A propagandeada arrogância de Sócrates esbarra assim nas firmes convicções de princípios dos partidos da Oposição.
Nada que se estranhe. Muitos dos que assim pensam também defendiam (ainda defenderão?) que os executivos municipais fossem monocolores, colocando a Oposição apenas nas assembleias municipais. Alguma razão haveriam de ter.
É fácil exigir a uma parte que dialogue. Mas, partindo do princípio de que o país não pode esgotar-se em eleições sucessivas, era bom que os dirigentes - todos - se capacitassem das suas responsabilidades. A ideia não é obrigar a Oposição a viabilizar o Governo nem o Governo a ceder às pressões que sobre ele exercerem. O que se deseja é que o diálogo parlamentar e o diálogo de Sócrates com os outros líderes partidários estabeleça bem as baias entre as quais há-de caber o próximo Governo, isto é, o que é preciso é que o Governo saiba quais os princípios de que cada um dos seus opositores não pode abdicar e que encontre em tudo o resto espaço de manobra suficiente para governar. O sucesso reside na frontalidade que cada interlocutor trouxer para o diálogo. É essa, aliás, a grande essência da Democracia.
Era bom que em todo este processo pudesse intervir directamente o presidente. Não sabemos se pode. A sua credibilidade baixou com a intervenção que fez e só os partidos, pela forma como decorreram entretanto os seus recentes encontros em Belém, saberão se Cavaco arrepiou caminho e consegue ou não recuperar o seu espaço.