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Escrevi isto neste espaço: "(...) E no entanto daqui para a frente, e em especial numa cidade como o Porto, a governação do presidente de Câmara terá de ser feita a partir de um novo ponto focal que, sem deixar de prover as competências básicas consignadas na lei, tem sobretudo de saber ser o nexo vital tantas vezes em falta nas cadeias que geram valor, no território ou que sobre este atuam.
Ou seja, temos de continuar a fazer funcionar o urbanismo, o licenciamento económico, a educação, o trânsito, o tapar os buracos da rua ou os teatros municipais. De preferência melhor e mais depressa.
Mas na verdade, o que realmente interessa é compreender e fazer apreender a vocação de um território, procurar ser o parceiro que falta para que a ligação entre as universidades e as empresas se faça melhor, antecipar e lutar pela resolução dos nós que estrangulam a vida económica ou o emprego, procurar ideias novas ou já testadas para que possamos ser mais e mais novos, conhecer e chamar pelo nome todos os jovens criadores ou empreendedores, acreditar que a verdadeira luta pela dignidade humana não se faz pela recuperação mais ou menos vistosa de bairros sociais mas sim pela mobilização incessante de uma prática de cidadania que nos englobe a todos...
(...) Trata-se de ajudar a criar e a manter uma rede e não de ser o topo de uma pirâmide com privilégios qualitativos de organização e procura de resultados.
E no Porto os dados difíceis estão lá, a desafiar uma compreensão evoluída e partilhada. Perdemos 9,7 da população nos últimos 10 anos, temos um índice de envelhecimento de 189,9 face à Região, 23,4 % dos alunos saem precocemente da escola (não acabam o Ensino Secundário), exportamos apenas 1000 milhões dos 16 mil milhões que exporta a Região e somos muito, muito mais comerciais (serviços) do que industriais sem que tal se reflita no planeamento da cidade.
Não tenho a menor dúvida de que os ingredientes para a solução destes problemas estão debaixo dos nossos olhos. Mas cada um só vê um pedacinho do puzzle. A Câmara não pode e não deve querer montá-lo. Mas pode e deve estimular incessantemente a procura do ângulo a partir do qual a imagem passa a fazer sentido. Em especial uma Câmara como a do Porto".
Continua válido.
*ANALISTA FINANCEIRA