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Rui Moreira não vê a ligação que possa existir entre o facto de os imigrantes cometerem crimes porque pagam rendas elevadas e o ataque que um grupo de magrebinos sofreu há dias por parte de extremistas de Direita. Se as rendas são altas por que motivo cometerão os imigrantes crimes, sujeitando-se depois a retaliações cegas? E se acrescentarmos o facto de, como diz o próprio presidente da Câmara do Porto, a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) “continuar morta perante o aparente descontrolo dos fluxos migratórios”? Se os imigrantes aqui chegados ficam perdidos numa teia burocrática kafkiana não terão eles motivos para ficar desesperados, sobretudo se têm de pagar rendas elevadas e não podem trabalhar devido à paralisia da AIMA?
Estamos a poucas semanas das eleições europeias e os temas da habitação e dos imigrantes vão integrar o debate. Parecem assuntos desconexos, mas a sua interligação é verosímil. “Os partidos de extrema-direita prosperam quando conseguem explorar as lacunas sociais (...) e quando conseguem culpar os estrangeiros”, afirmou, ao “The Guardian”, Balakrishnan Rajagopal, relator especial da ONU para o direito à habitação digna.
Um estudo recente mostrou que o aumento das rendas está associado a um maior apoio à extrema-direita alemã. O problema é que habitação cara também afeta os imigrantes. Em Portugal, ao propiciar-se o caos no acolhimento dos imigrantes dá-se razão aos argumentos, esses sim populistas, da extrema-direita. Condenar os crimes dos dois lados da “barricada” é fácil. Atacar o problema na sua raiz exige clareza de espírito.