Não sei o que Ângela realmente desejava para lá de agarrar a vida e fazê-la sua. Não sei se teria gostado de ter filhos ou se preferiria dar a volta ao Mundo antes de os ter, mas comoveu o país com a vontade de resistir ao que os médicos lhe diziam. Não sei se Ângela deu um último abraço ao pai e à mãe, mas no sábado, em Afife, na Igreja de Santa Cristina, uma multidão juntou-se para celebrar uma jovem mulher que esperou por Deus até ao último sopro do seu já cansado modo de soprar. Desconheço se Ângela trocava correspondência com alguém, se tinha algum médico preferido no IPO do Porto, se rezava a Nossa Senhora ou à padroeira de Afife que foi, por não renegar Jesus, apedrejada até à morte quando não passava de uma criança. Mas sei que Ângela deixou uma última mensagem aos portugueses que a acompanharam no seu martírio de esperança, na sua luta condenada a falhar, no que quis que fosse o seu desígnio de vida. Deus ouviu-a sem nada aparentemente poder fazer. Só que mesmo para os que não acreditam na sua presença, há coisas que não se explicam... é que havia tantos dias para Ângela morrer, mas o sangue deixou de lhe correr nas veias na manhã de 25 de dezembro, o dia do nascimento do Menino. Obrigado, Ângela. A tua voz, a tua loucura de vida, o teu exemplo chegou lá acima ou lá abaixo, sabemos lá nós. Não houve milagre, mas Deus preparou-lhe uma festa de celebração da morte no dia de todos os esperançosos, de toda a luz, de toda a felicidade, de toda a utopia de amor e de fé.
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