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Sermos campeões europeus no combate a uma doença terrível não dá direito a comoção nacional, nem a emissões televisivas em que se projetam as traseiras do autocarro onde seguem os homens e mulheres que operaram este pequeno milagre. Há 20, 30 anos, o VIH/Sida figurava entre os temas proibidos em Portugal. O país estava na lama das estatísticas. Éramos uma das nações do Velho Continente onde surgiam mais casos de infeção. Passado este tempo, e uma autêntica revolução silenciosa, conseguimos ombrear com a Dinamarca, Islândia, Suécia, Grã-Bretanha ou Irlanda do Norte. Por isso é que as Nações Unidas elogiaram o desempenho de um país periférico que se soube fazer grande. É uma vitória política, sem dúvida, deste e de governos passados, mas é, sobretudo, uma prova acabada de que, tal como na descriminalização do aborto e do consumo das drogas, quando nos unimos em torno de uma estratégia e não a mudamos de cinco em cinco minutos, somos capazes de dar sentido àquele ideal por vezes esquecido chamado "interesse nacional". Mas estes bons resultados são o reflexo de outra coisa: o Serviço Nacional de Saúde, tão maltratado e depauperado, ainda tem a capacidade de brilhar nos palcos internacionais. No fundo, é apenas Portugal a ser Portugal, na costumeira esquizofrenia que nos embala há séculos. Somos capazes de pior e do melhor. É HIVer para crer.
Jornalista